Foi assinado nesta quarta-feira (27), em Brasília, o decreto que regulamenta a TV 3.0, considerada a nova geração da televisão aberta e gratuita no Brasil. De acordo com o Ministério das Comunicações, a tecnologia promete revolucionar a forma como os brasileiros consomem conteúdo, ao combinar transmissão tradicional de som e imagem (broadcast) com integração plena à internet (broadband).
A TV 3.0 possibilitará interatividade em tempo real, maior qualidade de imagem e som, além da oferta de aplicativos que permitirão desde votações durante programas até compras diretas pelo controle remoto. As emissoras também poderão ampliar receitas ao incluir conteúdos sob demanda e publicidade personalizada.
A adoção do sistema ATSC 3.0, recomendada pelo Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), foi confirmada como padrão técnico oficial. O decreto estabelece ainda funcionalidades inéditas e um cronograma de migração gradativo, que começará pelas grandes cidades. A expectativa é que parte da população já tenha acesso à TV 3.0 durante a Copa do Mundo de 2026.
Com interface baseada em aplicativos, os canais de televisão voltarão a ocupar lugar de destaque na primeira tela dos aparelhos, competindo diretamente com plataformas de streaming. “A troca rápida entre canais permanece, mas agora dentro de um ambiente de aplicativos das próprias emissoras, devolvendo visibilidade à TV aberta”, explicou Marcelo Moreno, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em TV digital.
Para o engenheiro Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a inovação pode frear a perda de relevância da televisão frente aos serviços sob demanda (OTT). “A TV 3.0 reposiciona os canais abertos como opção preferencial ao recolocar seu ícone em destaque na primeira tela e no controle remoto dos novos aparelhos”, avalia.
Outro avanço previsto é a criação da Plataforma Comum de Comunicação Pública, que dará espaço a emissoras educativas e canais institucionais, como a TV Brasil e a Rede Legislativa. A proposta prevê que qualquer televisor conectado à internet possa acessar esses conteúdos, mesmo em regiões onde o sinal de antena não chega.
Segundo Carlos Neiva, vice-presidente da Astral, os aplicativos públicos terão tanto a programação linear quanto conteúdos sob demanda, em modelo semelhante às plataformas de streaming.
Apesar do potencial, especialistas apontam dois grandes desafios: o custo da migração para emissoras e usuários - com aquisição de novos transmissores, conversores e televisores - e a limitação no acesso à internet de qualidade. Dados do Cetic.br mostram que apenas 22% dos brasileiros com 10 anos ou mais possuem conectividade significativa, o que pode restringir o alcance das funcionalidades mais avançadas.
Mesmo assim, a regulamentação da TV 3.0 representa um marco para o setor de radiodifusão, colocando o Brasil entre os países na vanguarda tecnológica e abrindo espaço para uma televisão mais interativa, personalizada e conectada.