O Brasil vive uma onda alarmante de crimes digitais baseados em identidades falsas. Em 2024, mais da metade da população adulta (51%) relatou ter sido vítima de algum tipo de fraude digital, um salto em relação aos 42% do ano anterior. A criminalidade migrou: enquanto os roubos físicos a bancos caíram quase 30%, golpes virtuais explodiram, oferecendo menor risco e maior alcance para quadrilhas organizadas.
Somente em 2024, o Indicador Serasa Experian registrou 11,5 milhões de tentativas de fraude de identidade - crescimento de 9,4% em relação a 2023. No primeiro trimestre de 2025, apenas nos setores de bancos e cartões, foram quase 2 milhões de tentativas, 21,5% a mais que no mesmo período do ano anterior.
A tendência não é apenas brasileira. Relatório da Veriff mostra que 85% das fraudes digitais no mundo envolvem falsificação de identidade, com a América Latina respondendo por 81% dos golpes baseados no uso de documentos adulterados ou roubados.
Os impactos são devastadores. Mais da metade das vítimas (54%) sofreu perdas financeiras diretas. Para as instituições, os custos potenciais assustam: só as tentativas de fraude bancária registradas no início de 2025 poderiam ter gerado R$ 15,7 bilhões em prejuízos. Em 2024, os cibercrimes e vazamentos de dados representaram perdas estimadas em R$ 2,3 trilhões no Brasil.
Mesmo quando os golpes são identificados a tempo, o setor privado paga caro com investigações, reforço de sistemas, atendimento a clientes e risco de sanções regulatórias por falhas na proteção de dados.
Fraudes digitais por identidade falsa seguem múltiplas estratégias:
Abertura de contas com documentos falsificados ou adulterados;
Contratação indevida de empréstimos e benefícios em nome de terceiros, inclusive falecidos;
Uso de deepfakes e máscaras digitais para driblar provas de vida e reconhecimento facial;
Criação de identidades sintéticas combinando dados reais e fictícios;
Engenharia social, em que o golpista se apoia em documentos falsos para manipular vítimas e obter acesso a recursos.
Especialistas defendem que os bancos reforcem os mecanismos de proteção por meio da terceirização especializada da formalização de contratos. Empresas dedicadas ao processo oferecem camadas extras de autenticação documental, infraestrutura de segurança e conformidade regulatória.
Ferramentas como OCR aliado à Inteligência Artificial já permitem validar a autenticidade de documentos em segundos, cruzando informações com bases oficiais da Receita Federal, Banco Central, Justiça Eleitoral e Gov.br. Estudos do Serpro apontam que a integração com biometria oficial reduz em até 70% as tentativas de fraude.
O avanço da Carteira de Identidade Digital reforça esse cenário: transações realizadas com o novo documento apresentam risco de fraude de apenas 0,08%, contra 3,8% com documentos tradicionais sem biometria.
A meta é tornar a prevenção quase invisível para o usuário legítimo: identificar fraudes pelos traços digitais anômalos do criminoso, enquanto o cliente verdadeiro navega com confiança. O desafio é estancar uma escalada que ameaça não apenas o patrimônio financeiro, mas também a própria identidade digital de milhões de brasileiros.