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O colapso do Banco Master, colocado em liquidação extrajudicial pelo Banco Central, acendeu um alerta em todo o país. Mais do que um fato isolado, o episódio levantou uma pergunta incômoda entre investidores e poupadores: como saber se o dinheiro está aplicado em uma instituição realmente segura?
Para esclarecer o tema, a Revista Especiais conversou com Fábio Heinrich, diretor executivo da Sicredi Aliança PR/SP, que detalhou os bastidores da quebra do banco, apontou erros de gestão e reforçou a importância de desconfiar de “milagres” no mercado financeiro.
Ao comentar o caso do Banco Master, Heinrich lembrou que a situação não surgiu “da noite para o dia”. A instituição, criada nos anos 1970 como corretora, cresceu, virou banco, ampliou a carteira de crédito – e, em determinado momento, passou a pagar muito caro para captar dinheiro.
Segundo ele, uma das práticas que acenderam o sinal vermelho foi a oferta de CDBs e outros títulos de renda fixa pagando 130%, 140% e até 150% do CDI.
“Renda fixa é para ser o investimento mais seguro, com lógica e previsibilidade. Quando alguém começa a pagar muito acima do mercado, não é milagre: é risco concentrado em algum lugar”, alertou Heinrich.
Ele explica que, com a Selic em torno de 15% ao ano, uma remuneração de 140% do CDI significa um custo de aproximadamente 22% anuais para o banco.
“Como emprestar esse dinheiro e ainda conseguir pagar tudo isso ao investidor, num país com inadimplência alta e desafios econômicos?”, questionou.
Para o diretor, essa conta não fecha no médio e longo prazo – e é aí que o risco explode.
Na avaliação de Heinrich, o episódio deixa um recado direto:
Investidor não pode se encantar apenas pela taxa.
Oferta muito acima da média costuma vir acompanhada de risco elevado.
“Não existe milagre em instituição financeira. Se a rentabilidade é muito maior, o risco também é maior, mesmo que isso não esteja sendo claramente explicado para o cliente”, ressaltou.
Ele também chamou a atenção para um comportamento comum: o “leilão” por melhor taxa.
“Tem gente que sai comparando só percentual de CDI. Mas antes de olhar a taxa, precisa olhar quem está oferecendo, qual é a história dessa instituição, que garantias existem e como o dinheiro é aplicado”, completou.
Fábio Heinrich reforça que a relação de confiança começa pela pessoa que está do outro lado da mesa:
Quanto tempo esse profissional atua no mercado?
Ele tem certificações reconhecidas (CPA10, CPA20, CEA, CFP etc.)?
Ele explica com clareza onde o dinheiro será aplicado?
“Da mesma forma que a instituição precisa conhecer o cliente, o cliente precisa conhecer a instituição e o profissional que o atende. Em investimentos, fazer boas perguntas é tão importante quanto aplicar o dinheiro”, destacou.
Ele também lembra que não existe “produto ideal para todo mundo”: é preciso alinhar objetivo, prazo e tolerância ao risco.
“Quem não gosta de arriscar dificilmente terá a maior rentabilidade. É preciso coerência entre o sonho e o caminho escolhido para chegar até ele”, completou.
Na entrevista, Heinrich detalhou o funcionamento do sistema cooperativo e destacou que as cooperativas de crédito têm mecanismos de segurança adicionais em relação a boa parte do sistema bancário tradicional.
Entre os pontos citados, ele destacou:
Múltiplos níveis de controle e fiscalização
Conselho Fiscal
Auditorias internas e externas
Supervisão direta do Banco Central
Participação dos próprios associados na gestão, com prestação de contas em assembleias.
Além dos mecanismos obrigatórios, como o FGCoop, que garante até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição, o Sicredi mantém ainda:
Um fundo garantidor próprio do sistema, formado com recursos de todas as cooperativas;
Um modelo de solidariedade sistêmica, previsto em estatuto, que permite que cooperativas mais robustas apoiem ou absorvam outras em dificuldade, sempre preservando o patrimônio do associado.
“Hoje, dentro do Sicredi, trabalhamos para que o associado não perca recursos. Se uma cooperativa vai mal, existem fundos e mecanismos internos para corrigir o rumo antes de falar em quebra”, explicou.
Heinrich também ressaltou que a gestão dos recursos é centralizada em uma asset própria, com equipe de economistas premiada por projeções e estratégias de investimento, o que aumenta a segurança e a eficiência no uso do dinheiro captado.
Questionado se o problema do Banco Master é um caso isolado, o diretor foi cauteloso. Ele lembrou que o banco realizou operações com fundos de investimento, instituições financeiras, governos estaduais, prefeituras e fundos de previdência, muitas vezes com papéis de lastro duvidoso.
Um dos exemplos citados foi o de um regime próprio de previdência que teria aplicado cerca de R$ 1 bilhão em produtos sem cobertura de fundo garantidor, podendo ter perdas significativas.
Para Heinrich, o sistema financeiro como um todo terá de discutir com profundidade:
Os limites de risco assumidos por instituições;
A eficácia das atuais regras do Banco Central e dos fundos garantidores;
A responsabilidade de quem compra papéis sem entender completamente o lastro.
Ao encerrar a conversa, Fábio Heinrich deixou um recado direto aos associados e demais investidores que estão apreensivos após o caso Master:
“Antes de qualquer decisão, converse com o seu gestor de confiança. Não tome decisão na pressa só pela taxa. Conheça a instituição, entenda seu perfil de risco e lembre sempre: rentabilidade maior significa risco maior”.
E completou com um resumo que traduz o espírito do cooperativismo de crédito:
“Não é só dinheiro. É ter com quem contar na hora de decidir”.