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Segunda onda da crise do Banco Master expõe investidores que jamais aplicaram na instituição

Instituto Empresa alerta para contaminação indireta em fundos, previdência e carteiras de investimento, ampliando o alcance dos prejuízos e pressionando gestores por transparência imediata

Por: João Livi Fonte: Compliance Comunicação
21/11/2025 às 08h31
Segunda onda da crise do Banco Master expõe investidores que jamais aplicaram na instituição
Investidores cobram transparência após segunda onda de impactos da liquidação do Banco Master atingir fundos e previdência complementar. (Foto: Freepik)

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central em 18 de novembro de 2025, entrou em uma nova fase e ameaça atingir um público muito maior do que os depositantes e aplicadores diretos da instituição. O Instituto Empresa, entidade que atua desde 2017 na defesa de investidores e na promoção da governança corporativa, alerta para o avanço de uma “segunda onda” de impactos, agora sobre investidores que jamais tiveram qualquer relação direta com o banco, mas que podem estar expostos por meio de fundos de investimento, fundos de pensão, previdência complementar e carteiras administradas.

O problema é que muitos gestores aplicaram recursos dos cotistas em veículos que, por sua vez, detinham ativos, garantias ou derivativos ligados ao Banco Master. Sem perceber, o investidor comum pode estar carregando um risco que sequer sabia existir. E, nesses casos, não há cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Empresas expostas colocam investidores em alerta

A Oncoclínicas S.A. (ONCO3) tornou-se um dos exemplos mais simbólicos dessa contaminação. A companhia declarou ter cerca de R$ 433 milhões aplicados em CDBs do Banco Master, dos quais R$ 217 milhões já estavam provisionados. O restante - aproximadamente R$ 216 milhões - ainda compõe sua exposição contábil. A repercussão direta surge na desvalorização das ações e de títulos como CRIs emitidos pela própria empresa, que passam a ser vistos com mais cautela pelo mercado.

O quadro se agrava porque a mesma companhia já havia registrado perdas relevantes relacionadas à Ambipar, que entrou em recuperação judicial. Esse conjunto de fragilidades acende um alerta para riscos de crédito e de governança que acabam recaindo sobre quem investe via fundos - mesmo sem ter escolhido esses emissores.

“Mesmo quem nunca investiu nos CDBs do Banco Master sofrerá efeitos por decisões dos gestores de companhias, fundos e planos de previdência”, afirma Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.

Fundos de pensão sob questionamento

A crise também expõe fragilidades de Regimes Próprios de Previdência e entidades de previdência complementar. Um dos casos de destaque é o RioPrevidência, que aportou cerca de R$ 2 bilhões no Banco Master entre maio e julho deste ano, quando a crise já era amplamente conhecida. A AmazonPrev também registrou perda superior a R$ 50 milhões.

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Segundo o Instituto Empresa, episódios como esse podem resultar em impactos duradouros, que só serão percebidos pelos beneficiários anos à frente, seja na redução do valor das aposentadorias, seja na necessidade de contribuições extras - como já ocorreu em fundos como Postalis, Previ e Aeros.

Dever fiduciário na mira

O alerta principal recai sobre o dever fiduciário dos gestores. Eles administram recursos de terceiros e, portanto, devem selecionar, monitorar e reavaliar os ativos continuamente. Se falham - por apatia, conflito de interesses ou negligência - podem ser responsabilizados.

Para o Instituto Empresa, os cotistas devem exigir informações claras e imediatas, especialmente sobre:

  • A parcela da carteira vinculada, direta ou indiretamente, ao Banco Master;

  • As provisões já reconhecidas;

  • Os sinais de alerta e as medidas tomadas ao longo de 2025;

  • A estratégia para habilitação como credor na liquidação extrajudicial.

Caso haja indícios de inércia, o investidor pode recorrer à Justiça. A entidade avalia inclusive ações coletivas para responsabilização em casos de omissão.

Risco ampliado para o sistema financeiro

O Banco Central justificou a liquidação pela “grave crise de liquidez” e “violações severas às normas do Sistema Financeiro Nacional”. Embora o FGC limite parte das perdas para pequenos aplicadores, o impacto real se espalha por fundos, carteiras e previdência complementar, ampliando o risco de crédito, de reputação e de liquidez no mercado.

Investir não é suficiente: é preciso vigiar

O Instituto Empresa reforça que o investidor não pode se limitar ao extrato mensal. É essencial questionar, exigir a abertura da carteira e compreender a real exposição aos emissores que compõem o fundo ou a previdência contratada. Quanto mais opaca a gestão, maior a chance de que riscos escondidos estejam prestes a se materializar.

A crise do Banco Master, agora em sua segunda onda, revela uma dura realidade do mercado financeiro: mesmo quem nunca ouviu falar de um banco pode pagar caro por decisões tomadas em seu nome.

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