
A água que jorra das torneiras do Oeste do Paraná tem origem em um reservatório silencioso e profundo: o Aquífero Serra Geral. É dele que vem 89% do abastecimento da Bacia Paraná 3 (BP3), e conhecê-lo em detalhes é a missão do Projeto Hidrosfera, uma iniciativa inédita que alia ciência, tecnologia e gestão pública em prol da segurança hídrica regional.
Desde 2018, a equipe do Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas (LPH) da Universidade Federal do Paraná, com apoio da Itaipu Binacional e do Itaipu Parquetec, percorre mais de 3.000 quilômetros a cada trimestre para coletar amostras em dezenas de poços. A meta é compreender a dinâmica subterrânea, avaliar a qualidade da água e monitorar os impactos da chuva, da extração e das mudanças climáticas sobre o sistema aquífero.
O Hidrosfera é o primeiro projeto no Brasil a realizar um monitoramento contínuo e integrado do sistema aquífero fraturado. Por meio de sensores automáticos, medições manuais e análises químicas, o programa acompanha em tempo real o comportamento da água subterrânea - detectando variações de nível, períodos de recarga e possíveis contaminações.
O estudo resultou na criação de duas redes de monitoramento:
Rede hidrodinâmica, com cerca de 20 poços tubulares que registram dados de nível e recarga.
Rede hidroquímica, com 38 poços que fornecem amostras de água subterrânea, superficial e da chuva para análise detalhada da composição e origem dos elementos químicos.
Essas informações, antes inexistentes, agora servem de base para que municípios, companhias de abastecimento e gestores públicos saibam quanto podem extrair de forma segura e como prevenir a contaminação e o colapso de poços - problemas que afetam diversas cidades brasileiras.
Entre os resultados consolidados do projeto estão o Atlas Hidroquímico do Sistema Aquífero Serra Geral, o Modelo Hidrogeológico do Aquífero, o e-book “As Águas Invisíveis na Bacia Hidrográfica Paraná 3”, além de ações de educação científica promovidas pela Escola Itaipu para Sustentabilidade.
Esse conjunto de estudos e publicações permite que o conhecimento técnico seja traduzido em linguagem acessível, ampliando a transparência e a participação cidadã. Municípios agora dispõem de subsídios científicos para planejar o uso da água com base em dados confiáveis - um avanço que reforça o papel da ciência na formulação de políticas públicas ambientais e de saneamento.
Para o Itaipu Parquetec, o Hidrosfera é exemplo de inovação aplicada ao bem comum. O projeto mostra que tecnologia também é sinônimo de cuidado com a vida: compreender e preservar as águas subterrâneas significa garantir o futuro das comunidades que delas dependem.
Após sete anos de monitoramento contínuo, o programa atinge sua maturidade com uma nova etapa: o lançamento de um documentário de 10 minutos, que levará o tema das águas subterrâneas para o grande público, de forma clara e envolvente.
A trajetória do Hidrosfera comprova que a ciência pode nascer do subsolo e florescer na superfície como consciência ambiental. É o Paraná redescobrindo sua maior riqueza - a água - e aprendendo a protegê-la para as próximas gerações.