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Do Paraná para o mundo: sistema de plantio direto revoluciona a agricultura tropical

Modelo brasileiro, com raízes no Paraná, é reconhecido internacionalmente como solução agrícola sustentável e ferramenta contra as mudanças climáticas

Por: João Livi
12/05/2025 às 08h22
Do Paraná para o mundo: sistema de plantio direto revoluciona a agricultura tropical
Sistema Plantio Direto: inovação que brotou no Norte do Paraná e conquistou o mundo. (Foto: IDR)

O Brasil não apenas adotou uma nova forma de cultivo ao abandonar o preparo convencional do solo. Foi além. Criou, a partir de experiências práticas e científicas paranaenses, um modelo de agricultura que hoje é referência global. O sistema de plantio direto, cuja origem remonta aos anos 1970 no Paraná, consolidou-se como tecnologia estratégica para a sustentabilidade da produção agrícola mundial, conforme detalha o artigo científico “No-tillage system: a genuine Brazilian technology that meets current global demands”, publicado na revista Advances in Agronomy.

A semente dessa transformação foi plantada ainda na década de 1960, quando pesquisadores questionaram a eficácia da aração e gradagem em solos tropicais. Em Londrina, o antigo Ipeame – órgão precursor da Embrapa – iniciou os primeiros testes com o plantio direto, técnica já utilizada nos Estados Unidos. Em 1971, o produtor Herbert Bartz, de Rolândia, procurou o instituto em busca de alternativas mais sustentáveis para lidar com a erosão.

No ano seguinte, Bartz realizou a primeira semeadura direta de soja comercial da América Latina. A inovação rapidamente se espalhou. Agricultores de Campo Mourão, Mauá da Serra e, posteriormente, dos Campos Gerais também adotaram a nova abordagem, que começava a formar uma rede de pioneiros. Entre eles, destacam-se os nomes de Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, o "Nonô", reconhecidos hoje como verdadeiros embaixadores do sistema.

Em 1972, foi criado o Iapar (hoje IDR-Paraná), que desempenhou papel crucial no avanço técnico e científico da prática. A instituição estabeleceu os três pilares do sistema: não revolver o solo, mantê-lo permanentemente coberto e realizar rotação de culturas. “Percebeu-se que não bastava parar de arar. Era preciso diversificar, proteger o solo e criar equilíbrio ecológico”, explica o pesquisador Tiago Santos Telles, coautor do estudo.

A partir de 1976, o termo “Sistema Plantio Direto” (SPD) passou a ser utilizado, refletindo uma visão sistêmica e integrada do manejo agrícola. Essa mudança conceitual resultou de estudos interdisciplinares que envolveram fertilidade do solo, mecanização, fitotecnia e controle biológico. “Foi quando a técnica virou estratégia. E uma estratégia adaptada ao trópico, baseada em ciência e colaboração entre agricultores e instituições”, destaca Rafael Fuentes Llanillo, pesquisador que atua na área desde 1979.

De um início tímido em 200 hectares, o SPD cresceu exponencialmente. Em 1975, já somava 200 produtores no Paraná. Na década seguinte, espalhou-se pelo Sul e Centro-Oeste. A consolidação nacional ocorreu nos anos 1990, com o avanço da mecanização e o uso de herbicidas. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, mais de 33 milhões de hectares já adotavam o sistema no Brasil. Estimativas atuais indicam uma área superior a 41 milhões de hectares.

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Globalmente, o plantio direto ocupa mais de 205 milhões de hectares, sendo utilizado em países como Argentina, Estados Unidos, Canadá, Austrália e China. Ainda assim, o modelo brasileiro segue como padrão, especialmente pela eficácia em condições tropicais e pelo enfoque sustentável. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) reconhece o SPD como base da “agricultura de conservação”.

O sistema de plantio direto é uma vitória da audácia, persistência e solidariedade dos agricultores e da ciência brasileira”, afirma Fuentes Llanillo. “É uma ferramenta fundamental para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e garantir segurança alimentar no mundo”.

A trajetória do SPD também está registrada no livro “O Brasil possível”, biografia de Herbert Bartz escrita pelo jornalista Wilhan Santin. A obra resgata a história de quem ousou transformar a relação entre homem e solo.

Autores do estudo publicado em Advances in Agronomy:

  • Tiago Santos Telles (IDR-Paraná)

  • Rafael Fuentes Llanillo (Febrapdp)

  • Ruy Casão Junior (IDR-Paraná)

  • Marie Luise Carolina Bartz (UFSC/Universidade de Coimbra)

  • Ricardo Ralisch (UEL)

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