O conclave realizado nesta quinta-feira (8) no Vaticano elegeu o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como o novo papa da Igreja Católica, sucedendo Francisco, falecido há 17 dias. O anúncio oficial foi feito com a tradicional frase latina “Habemus Papam”, logo após a fumaça branca surgir da Capela Sistina. Da sacada da Basílica de São Pedro, o novo pontífice apareceu para saudar os fiéis e revelou o nome que adotará: Papa Leão XIV.
A escolha de Prevost é histórica por diversos motivos. Ele se torna o primeiro papa da Ordem de Santo Agostinho, o primeiro nascido nos Estados Unidos e o segundo das Américas, após Jorge Mario Bergoglio, o argentino Francisco. Mas, ao contrário de seu antecessor do sul do continente, Prevost tem raízes no norte: nasceu em 14 de setembro de 1955, em Chicago, Illinois, filho de Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de origem espanhola. Tem dois irmãos, Louis Martín e John Joseph.
Sua vocação religiosa começou cedo. Após estudar Matemática e Filosofia na Villanova University, ingressou no noviciado agostiniano em 1977 e fez sua profissão solene em 1981. Foi ordenado sacerdote em 1982, em Roma, enquanto concluía estudos em Direito Canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino (Angelicum). Em 1987, defendeu sua tese de doutorado e passou a dedicar-se intensamente à missão no Peru, país com o qual manteve fortes laços por mais de uma década.
No país andino, atuou como formador de religiosos agostinianos, vigário judicial, professor de teologia e Direito Canônico, além de pároco em comunidades periféricas da cidade de Trujillo. Entre 1999 e 2007, foi eleito e reeleito prior geral da Ordem de Santo Agostinho, liderando a congregação no mundo inteiro.
Sua trajetória episcopal teve início em 2014, quando o Papa Francisco o nomeou administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, onde depois foi confirmado como bispo titular. Com sensibilidade pastoral e foco em temas sociais como pobreza e educação, também exerceu papéis de liderança na Conferência Episcopal Peruana.
A partir de 2019, passou a integrar órgãos importantes da Cúria Romana, como a Congregação para o Clero e a Congregação para os Bispos. Em janeiro de 2023, Francisco o nomeou Prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, tornando-se arcebispo. Foi criado cardeal em setembro de 2023, recebendo o título de Santa Mônica — referência à mãe de Santo Agostinho.
Participou das duas sessões do Sínodo sobre a Sinodalidade, em 2023 e 2024, e acumulou funções em diversos dicastérios, incluindo os de Evangelização, Doutrina da Fé, Igrejas Orientais, Cultura, Educação e Textos Legislativos. Em fevereiro deste ano, foi promovido à ordem dos cardeais-bispos, recebendo o título da Igreja Suburbicária de Albano.
Além da sólida formação acadêmica e do perfil internacional — fluente em espanhol, italiano e inglês — Leão XIV é reconhecido por sua capacidade de diálogo, proximidade com comunidades carentes e compromisso com a unidade e a reforma da Igreja, sobretudo no enfrentamento de questões como burocracia interna, abusos e transparência econômica.
Seu lema episcopal é “In Illo uno unum” (“No único [Cristo], somos um só”), uma expressão de Santo Agostinho que reflete sua visão de Igreja como comunhão. Durante a última internação de Francisco, foi ele quem presidiu o rosário pela saúde do papa em 3 de março, na Praça São Pedro — gesto simbólico que antecedeu sua ascensão ao papado.
A eleição de Papa Leão XIV inaugura uma nova fase para a Igreja Católica, unindo tradição e renovação sob a liderança de um religioso profundamente enraizado na missão, no diálogo intercontinental e na espiritualidade agostiniana.