A caderneta de poupança, que por muitos anos foi a principal escolha dos brasileiros para guardar dinheiro, está passando por um momento desafiador. Em um cenário de juros elevados e maior acesso a alternativas de investimento, a poupança perdeu parte de seu tradicional apelo. Em 2023, o saldo negativo foi de R$ 87 bilhões, refletindo o movimento de saída dos investidores. Embora a tendência de saques tenha desacelerado em alguns meses de 2024, ela voltou a ganhar força em setembro. Segundo dados do Banco Central, o mês registrou saques líquidos de R$ 7,1 milhões, com um saldo acumulado de retiradas líquidas de R$ 4,1 bilhões no ano.
Mesmo assim, a poupança ainda conta com um volume expressivo de mais de R$ 1 trilhão em estoque. Esse montante é crucial, já que a caderneta tem sido a principal fonte de recursos para o financiamento imobiliário, especialmente por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). No entanto, esse papel tem diminuído ao longo dos anos. De acordo com um levantamento da XP, desde 2020, a participação da poupança no financiamento imobiliário caiu de 54% para 36% em 2023, enquanto os bancos privados aumentaram sua fatia de 16% para 36% no mesmo período.
A rentabilidade da poupança, que é composta pela Taxa Referencial (TR) mais uma remuneração fixa de 0,5% ao mês, está atrelada ao patamar da taxa Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. Embora essa fórmula seja válida enquanto a Selic estiver acima de 8,5%, ela tem se mostrado cada vez menos competitiva quando comparada a outras opções de renda fixa, como o Tesouro Direto, CDBs e LCIs/LCAs, que oferecem retornos mais atraentes.
A migração dos investidores para outras modalidades de investimento tem sido impulsionada pelo aumento do conhecimento financeiro e pelo fácil acesso a plataformas digitais de investimento. Hoje, qualquer pessoa pode verificar, por meio de simuladores online, que outras opções de renda fixa, como os fundos tradicionais ou LCIs/LCAs, superam a rentabilidade da poupança. Enquanto um depósito de R$ 1 mil na poupança renderia 7,08% em 12 meses, fundos de renda fixa chegam a 8,5% no mesmo período, e LCIs/LCAs, que são isentos de imposto, alcançam até 9,34%.
Essa perda de competitividade da poupança pode trazer impactos significativos para o setor imobiliário, que historicamente dependeu dos recursos captados via caderneta para o financiamento habitacional. O SBPE, por exemplo, pode enfrentar dificuldades se a tendência de saques continuar a superar os depósitos. Caso essa movimentação persista, será necessário repensar as fontes de financiamento para o crédito imobiliário no Brasil.
Além da atratividade de maior rentabilidade, os investidores encontram segurança em produtos garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que protege aplicações em CDBs, LCIs e LCAs, reforçando a saída de capital da poupança. Essa combinação de maior retorno e segurança vem minando ainda mais o espaço da caderneta, levando os brasileiros a diversificarem seus investimentos.
Em suma, o ambiente econômico atual, caracterizado por juros altos e acesso facilitado a informações e produtos financeiros, tem desafiado a relevância da poupança. Embora ainda ofereça liquidez e segurança, suas vantagens não são suficientes para competir com as alternativas disponíveis. A tendência é que a migração para outros tipos de investimento continue, a menos que haja mudanças significativas no cenário econômico.