
O Banco Central do Brasil confirmou o desligamento da plataforma de testes do Drex, a moeda digital do real, após quatro anos de desenvolvimento. A decisão marca o fim da fase piloto do projeto, que será reconfigurado antes de avançar para uma nova etapa. A medida adia indefinidamente o lançamento do Real Digital e reflete preocupações com segurança, privacidade e viabilidade tecnológica.
Lançado em 2021, o Drex fazia parte da estratégia do Banco Central para criar uma moeda digital de banco central (CBDC), alinhada a iniciativas semelhantes em outros países. Baseada na tecnologia blockchain Hyperledger Besu, a plataforma buscava integrar o ecossistema financeiro digital brasileiro - unindo Pix, Open Finance e tokenização de ativos.
Entretanto, o sistema não atendeu plenamente aos critérios de privacidade e escalabilidade exigidos pelo BC. Em reunião realizada no dia 4 de novembro, o órgão comunicou oficialmente aos consórcios participantes do piloto que a plataforma seria desativada e que uma nova fase começará em 2026, com revisão total da infraestrutura.
O desligamento da plataforma se deve a uma combinação de fatores técnicos, regulatórios e estratégicos:
Privacidade e segurança insuficientes: a arquitetura atual não conseguiu garantir confidencialidade total das operações, requisito essencial para um sistema financeiro nacional.
Custo e complexidade elevados: a solução blockchain mostrou-se cara e difícil de escalar para o uso em larga escala.
Mudança de foco: o BC decidiu priorizar a análise de casos de uso práticos antes de escolher a tecnologia definitiva, em vez de manter a abordagem “tecnologia primeiro”.
De acordo com fontes próximas ao projeto, o Banco Central planeja adotar um modelo “agnóstico em tecnologia”, sem compromisso prévio com o blockchain, e abrir espaço para alternativas mais seguras e compatíveis com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
O lançamento público do Drex, previsto inicialmente para 2025, foi adiado por tempo indeterminado. A nova etapa do projeto terá foco em operações de alto valor - como garantias no mercado de crédito e liquidação de títulos -, deixando em segundo plano o uso cotidiano para pagamentos de varejo.
Mesmo com a pausa, o BC reforçou que o projeto não foi cancelado, apenas suspenso para reestruturação. A autarquia segue comprometida com a modernização financeira e com a digitalização da economia, mas priorizando segurança, governança e transparência.
A decisão causou cautela entre os consórcios de bancos, fintechs e empresas de tecnologia que participaram dos testes. Apesar da paralisação, especialistas apontam que a tokenização de ativos - conceito central do Drex - deve seguir em projetos paralelos e inspirar novos produtos integrados ao Pix e ao Open Finance.
Entre as principais expectativas do setor estão:
Definição dos casos de uso que o Drex deve suportar, como liquidação de títulos públicos e pagamentos internacionais.
Escolha da nova infraestrutura tecnológica, que poderá ou não utilizar blockchain.
Garantia de que a próxima fase alinhará segurança, escalabilidade e interoperabilidade para o sistema financeiro nacional.