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Prejuízo médio com golpes via Pix dispara 21% em 2025 e crime migra para contas de empresas

WhatsApp lidera como porta de entrada; devolução pelo MED cai e projeção é recuperar só 6,8% até dezembro

Por: João Livi
27/10/2025 às 09h39
Prejuízo médio com golpes via Pix dispara 21% em 2025 e crime migra para contas de empresas
Profissionalização do crime digital: golpes migram para contas PJ e elevam o prejuízo médio do brasileiro em 2025. (Foto: Freepik)

A terceira edição da pesquisa Golpes com Pix, da Silverguard, acende o alerta vermelho: em 2025, o prejuízo médio por vítima subiu 21% e chegou a R$ 2.540. O levantamento - baseado em dados do Banco Central obtidos via LAI e na análise de 12.197 denúncias da Central SOS Golpe - mostra a profissionalização das quadrilhas e uma mudança estratégica no destino do dinheiro roubado: agora, 65% dos valores fluem para contas de pessoas jurídicas, principalmente LTDA (91%), deixando para trás a antiga predominância das contas de pessoas físicas.

A escalada de perdas não atinge todos por igual. Nas classes A/B, o rombo médio saltou para R$ 10.500 (alta de 67% ante 2024); na classe C, ficou em R$ 4.300; nas classes D/E, em R$ 1.500. Pessoas jurídicas perdem, em média, R$ 5.200, o dobro das pessoas físicas (R$ 2.500). Por idade, quem tem 60+ perde cinco vezes mais do que jovens de 18 a 29.
Entre os Estados com maiores danos médios por golpe, Alagoas lidera (R$ 3.370), seguido por Espírito Santo (R$ 2.890) e Roraima (R$ 1.880). Em São Paulo, o prejuízo médio é de R$ 1.600; o menor valor aparece no Rio Grande do Norte (R$ 650).

Onde os golpes começam: Big Techs dominam

Dois em cada três golpes nascem em plataformas da Meta. O WhatsApp responde por 29,6% dos casos, o Instagram por 21,4% e o Facebook por 13,1%. O Telegram já concentra 11,8% (salto de 61% em um ano). Chamam atenção os apps de jogos, com alta de 355% nas ocorrências. Embora representem só 1,8% dos casos, ligações telefônicas provocam o maior prejuízo médio: R$ 6.200 por vítima, sendo um terço do tipo spoofing (número “conhecido”).
Destaques por perfil: WhatsApp é o principal vetor entre 60+ (46%); Instagram lidera entre menores de 18 (40%); TikTok já é 11% dos golpes com menores.

O topo do ranking segue com compras falsas em perfis/lojas inexistentes (42,9%). Depois vêm falsas vagas de emprego/renda extra (12,5%) e promessas de multiplicar/investir dinheiro (12,2%). Entre menores de 18, 59,1% caem em compras falsas e 15,3% em sorteios/prêmios inexistentes. Entre 60+, predominam pedidos de ajuda/empréstimo (22%) e falsas promessas de benefícios/indenizações (16,5%).

Classe social: tipos de golpe e o tamanho do rombo

  • Classe A/B: multiplicar/investir/apostar (R$ 43.300); “alerta do banco” (R$ 31.400); empréstimo/benefício/indenização (R$ 30.200).

  • Classe C: multiplicar/investir/apostar (R$ 12.200); emprego/renda extra (R$ 8.900); “alerta do banco” (R$ 7.700).

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  • Classe D/E: multiplicar/investir/apostar (R$ 3.100); emprego/renda extra (R$ 2.900); “alerta do banco” (R$ 2.700).

MED perde fôlego: mais aberturas, menos dinheiro de volta

Criado pelo Banco Central em 2021, o Mecanismo Especial de Devolução (MED) segue pouco conhecido: 59,4% dos brasileiros nunca ouviram falar. E sua eficácia cai ano a ano. As infrações abertas devem ultrapassar R$ 7 bilhões em 2025, mas a taxa efetiva de devolução pode escorregar para 6,8% em dezembro (era 9,5% em jun/2023, 8,5% em jun/2024 e 7,9% em jun/2025).
Aberturas e aceitação:

  • 2022: 2.236.242 MEDs | 73% de aceitação.

  • 2023: 4.601.771 | 57%.

  • 2024: 12.419.629 | 41%.

  • 2025 (proj.): 16.044.625 | 24%.

Segundo a Silverguard, a migração para contas PJ e o uso de intermediários de pagamento fragilizam o mecanismo. Desde que o BC vinculou o aceite da infração à marcação de fraude no DICT, instituições passaram a negar MEDs envolvendo intermediários, pois aceitar implica marcar o documento e bloquear novos recebimentos daquele cliente. A análise aponta a necessidade de um “terceiro nível” no arranjo do Pix (como nos boletos) para dar visibilidade ao cliente por trás do intermediário e reequilibrar responsabilidades. “Sabemos que essa é uma mudança tecnológica profunda e de longo prazo, mas, sem esse ajuste, a efetividade do MED tende a cair, mesmo com o MED 2.0”, avalia a coordenação da pesquisa.

Um crime que trocou a rua pela tela

De 2018 a 2025, os estelionatos cresceram 408%, enquanto os roubos caíram 51%. Só no último ano, estelionatos eletrônicos subiram 26% e roubos físicos recuaram 14%. O estrago é bilionário: R$ 51 bilhões em engenharia social; R$ 23 bilhões em fraudes com cartão de crédito; R$ 38 bilhões em fraudes bancárias (contas-correntes e poupanças).
Para a Silverguard, “os golpes digitais deixaram de ser práticas amadoras. O que vemos hoje é uma indústria criminosa estruturada, que aluga contas PJ, compra anúncios e opera como uma empresa paralela ao mercado formal”. A empresa destaca ainda que a nova interpretação do STF sobre o artigo 19 do Marco Civil pode ser um divisor de águas, ao permitir responsabilização de plataformas mediante notificação extrajudicial, dividindo melhor o peso entre bancos, fintechs e Big Techs.

Como os Estados se saem no prejuízo médio (PF)

Alagoas (R$ 3.370); Espírito Santo (R$ 2.890); Roraima (R$ 1.880); Rio Grande do Sul (R$ 1.690); Distrito Federal (R$ 1.730); Mato Grosso do Sul (R$ 1.780); Mato Grosso (R$ 1.630); São Paulo (R$ 1.600); Minas Gerais (R$ 1.570); Amapá (R$ 1.510); Rondônia (R$ 1.330); Sergipe (R$ 1.310); Pernambuco (R$ 1.310); Rio de Janeiro (R$ 1.320); Paraná (R$ 1.230); Tocantins (R$ 1.220); Santa Catarina (R$ 1.220); Amazonas (R$ 970); Ceará (R$ 960); Maranhão (R$ 990); Paraíba (R$ 1.040); Bahia (R$ 1.090); Acre (R$ 1.100); Pará (R$ 1.110); Piauí (R$ 810); Rio Grande do Norte (R$ 650).

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