A tensão econômica entre China e Estados Unidos ganhou novo capítulo após o governo chinês anunciar restrições à exportação de minerais raros, insumos essenciais para a fabricação de semicondutores, veículos elétricos, painéis solares e sistemas de defesa. A medida, divulgada nesta sexta-feira (10), foi justificada por Pequim como uma ação voltada à proteção da segurança nacional e à manutenção do controle sobre recursos estratégicos.
A decisão ocorre em um momento de aumento das tensões comerciais entre as duas maiores economias do planeta. Em reação, o presidente americano Donald Trump anunciou que os Estados Unidos aplicarão tarifas de 100% sobre as importações chinesas a partir de 1º de novembro de 2025, caso o país asiático mantenha as limitações.
A China controla mais de 80% da produção mundial de terras raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais à indústria tecnológica. Entre eles, destacam-se o neodímio, o lantânio e o térbio, todos fundamentais para o funcionamento de equipamentos eletrônicos modernos e sistemas de energia limpa.
Os principais polos de produção chineses estão nas províncias da Mongólia Interior (mina de Bayan Obo), Jiangxi e Sichuan, que concentram a extração, beneficiamento e refino desses minerais. Esse domínio não se limita à extração: a China também é líder mundial no processamento industrial, etapa em que os minerais são transformados em componentes prontos para uso tecnológico - um gargalo que mantém o restante do mundo dependente de seu fornecimento.
Embora existam outras fontes, nenhum país consegue competir em escala com a China. Entre os principais produtores alternativos estão:
Estados Unidos – mina de Mountain Pass (Califórnia), que voltou a operar em 2018, mas ainda envia parte do material para processamento na própria China;
Austrália – mina de Mount Weld, uma das mais ricas em neodímio, operada pela empresa Lynas;
Brasil – jazidas em Araxá (MG) e Catalão (GO), com potencial crescente de exploração;
Canadá, 🇮🇳 Índia e 🇷🇺 Rússia, com projetos em desenvolvimento e produção limitada.
Ainda assim, especialistas destacam que a cadeia de valor global permanece concentrada nas mãos de Pequim, que domina as tecnologias de purificação e separação química, etapas de alto custo e impacto ambiental.
Os minerais raros são insubstituíveis na fabricação de produtos de alta tecnologia.
O neodímio é usado em ímãs de turbinas eólicas, motores elétricos, fones de ouvido e equipamentos médicos.
O lantânio é empregado em baterias, lentes ópticas e catalisadores automotivos.
O térbio é essencial para telas de LED, lâmpadas fluorescentes e sensores.
Com as novas restrições, o risco de escassez e alta de preços cresce em toda a cadeia produtiva, podendo atingir desde a indústria automobilística até o setor de energia renovável.
A medida é vista por analistas como uma resposta direta às restrições impostas pelos Estados Unidos à exportação de chips e tecnologias avançadas para empresas chinesas. O novo embate deve intensificar a busca por fontes alternativas desses minerais em países emergentes, especialmente na América Latina e na África, regiões com grandes reservas ainda pouco exploradas.
O episódio evidencia a crescente rivalidade tecnológica e estratégica entre China e Estados Unidos - uma disputa que transcende tarifas e mercados, e redefine o equilíbrio econômico mundial.