Dinheiro continua sendo uma das maiores fontes de preocupação do brasileiro. Uma pesquisa realizada pela fintech Onze em parceria com a Icatu revelou que 49% da população coloca as finanças no topo da lista de fatores de estresse, superando saúde (19%), família (15%), trabalho (7%), violência (7%) e política (3%).
Entre os jovens, o quadro é ainda mais alarmante. Um levantamento da CNDL e SPC Brasil aponta que 47% da chamada Geração Z - nascidos entre 1995 e 2010 - não controlam suas próprias finanças. As justificativas variam entre falta de conhecimento (19%), preguiça (18%), ausência de hábito ou disciplina (18%) e até mesmo falta de rendimentos (16%). Além disso, 26% desses jovens ainda recorrem a um simples bloquinho de papel para tentar organizar os gastos mensais.
A falta de preparo não afeta apenas o bolso. O consumo imediato, a necessidade de pertencimento e a comparação com os pares levam muitos adolescentes ao endividamento precoce, gerando estresse, ansiedade e baixa autoestima.
De acordo com o psicólogo Pedro Rujano, dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, o impacto emocional é direto. “Quando o jovem desenvolve autoconhecimento, controle emocional e hábitos de organização, consegue tomar decisões mais conscientes e com sentido, reduz o estresse ligado às finanças e constrói bases mais sólidas para a vida adulta”, afirma.
Especialistas defendem que a educação financeira deve começar ainda na infância. Para crianças a partir dos três anos, atividades simples, como escolher apenas um produto no mercado, ajudam a trabalhar o conceito de limite. Entre os sete e os dez anos, lidar com pequenas quantias já permite entender o valor real das moedas e notas. Na adolescência, a recomendação é envolver os jovens no orçamento doméstico, apresentando contas da casa e explicando como funcionam extratos, faturas, cartões de crédito, juros e investimentos.
“Uma regra prática é separar 15% do salário para investimentos, 15% para objetivos maiores e o restante para necessidades e desejos pessoais. Educação financeira não significa abrir mão de prazeres, mas sim equilibrar consumo e planejamento”, orienta Vanessa Cristiane Motta de Matos, sócia-fundadora de uma startup de investimentos.
Entidades desenvolvem metodologia que une educação financeira e gamificação para tornar o aprendizado mais atrativo. Jogos de tabuleiro, aplicativos e totens digitais permitem que estudantes acumulem moedas fictícias, que podem ser trocadas por benefícios práticos, como prazos maiores para trabalhos, provas em dupla ou itens em uma “lojinha”.
Segundo o CEO da empresa, Sam Adam Hoffmann, a proposta busca transformar um tema considerado difícil em algo natural no ambiente escolar. A startup já impactou mais de seis mil jovens em três estados, em mais de 40 instituições de ensino, e pretende alcançar 100 mil estudantes da periferia até 2027.
A baixa tolerância à frustração, somada à dificuldade de planejar a longo prazo, expõe os jovens a riscos que ultrapassam o aspecto econômico. A desorganização financeira pode desencadear crises de ansiedade e comprometer a saúde mental.
Ao contrário, quando o jovem aprende a organizar os gastos, estabelecer metas e diferenciar necessidades de desejos, ele não apenas evita dívidas, mas também constrói autoconfiança e reduz o estresse. A relação entre dinheiro e emoções, antes negligenciada, revela-se um dos principais desafios da juventude contemporânea.