Diretamente das mãos de produtores da agricultura familiar para as mesas da alta gastronomia, o mel do Oeste do Paraná com Indicação Geográfica (IG) tem se consolidado como um dos protagonistas do turismo gastronômico em Foz do Iguaçu, uma das cidades mais visitadas do país. Entre os produtos de destaque está o Mel Jataí, considerado raro e valorizado por sua exclusividade e qualidade.
A Cooperativa Agrofamiliar Solidária (Coofamel), com sede em Santa Helena, lidera esse processo de valorização. Segundo o presidente da entidade, Antônio H. Schneider, a crescente aceitação do mel na gastronomia é reflexo de uma mudança nos hábitos de consumo e da busca por ingredientes de origem sustentável e diferenciada. “Até pouco tempo, o mel era lembrado apenas no inverno, para tratar gripes. Agora, chefs renomados o utilizam em pratos sofisticados, o que dá visibilidade ao nosso trabalho”, afirma.
O Mel Jataí, produzido por uma espécie nativa de abelha, destaca-se pela baixa produção - em média, apenas 1 kg por colmeia ao ano. Essa limitação reforça o caráter exclusivo do produto, que teve sua identidade visual reformulada, com nova logomarca e embalagens de vidro. Desde então, as vendas aumentaram mais de 100%.
Essa valorização já é percebida na prática. No Hotel das Cataratas, A Belmond Hotel, em Foz do Iguaçu, o Mel do Oeste com IG passou a compor pratos e menus especiais. O chef executivo Luiz Guilherme Cyrino destaca que o produto representa a conexão com o território e integra a política de sustentabilidade da rede hoteleira. “Ele fortalece a gastronomia com recursos locais, promove a biodiversidade e apoia produtores comprometidos com a responsabilidade socioambiental”, explica.
Entre as criações estão charcutarias com mel, pipoca de queijo coalho, stick de queijo de cabra, brioche com fígado de galinha e até uma seleção de méis servida no café da manhã, que inclui o Jataí, permitindo aos hóspedes perceberem as particularidades de cada sabor.
Duas décadas de trabalho coletivo
A consolidação do mel do Oeste com IG é resultado de mais de 20 anos de esforço coletivo de cerca de 130 famílias do Oeste e parte do Sudoeste paranaense. A conquista da Indicação Geográfica, em 2017, marcou um divisor de águas. O processo foi acompanhado de perto pelo Sebrae/PR, por meio do consultor Emerson Durso, que atuou desde 2007 na implementação de boas práticas e no fortalecimento da cadeia produtiva.
Segundo Durso, o selo de IG é mais do que uma chancela de origem. Ele atesta a qualidade e obriga os produtores a seguirem critérios técnicos rigorosos. “O produtor precisa cumprir um caderno de especificações. Só quem atinge pelo menos 80% dos requisitos pode usar o selo”, esclarece.
A Indicação de Procedência reconhece características únicas do mel produzido no Oeste do Paraná, como floradas específicas, vegetação nativa e condições climáticas locais. Essa combinação resulta em um produto com identidade própria, impossível de ser reproduzido em outras regiões.
IG Mel do Oeste e as demais do Paraná
Reconhecida em julho de 2017, a IG do Mel do Oeste integra a lista de 20 Indicações Geográficas do Paraná. Além dela, estão produtos como o barreado do Litoral, o café de Mandaguari, a carne de onça de Curitiba, o urucum de Paranacity, os queijos coloniais de Witmarsum, entre outros que reforçam a identidade cultural e produtiva do estado.