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Tons alaranjados no céu são alerta: outono e inverno trazem poluição, riscos à saúde e incêndios

Fenômenos como inversão térmica e baixa umidade intensificam a poluição atmosférica nas cidades; plataforma VFogo ajuda a monitorar focos de calor e incêndios

Por: João Livi Fonte: Simepar
07/05/2025 às 16h25
Tons alaranjados no céu são alerta: outono e inverno trazem poluição, riscos à saúde e incêndios
Foto: Daniel Castellano/SEDEST

Os belos tons alaranjados do pôr do sol durante o outono e o inverno, principalmente em áreas urbanas, são um espetáculo visual que muitas vezes esconde um problema grave: o aumento da poluição atmosférica. A combinação de fatores meteorológicos e emissões humanas intensifica esse fenômeno e traz consigo consequências preocupantes para a saúde pública e o meio ambiente.

O céu mais avermelhado nesses períodos tem uma explicação científica. Segundo o meteorologista Fernando Mendes, do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), a luz do sol percorre um trajeto mais longo na atmosfera no início da manhã e no fim da tarde. As ondas curtas, como azul e violeta, se dispersam e saem da linha de visão. Já as de maior comprimento, como vermelho e laranja, chegam até os olhos com mais facilidade. “A presença de poluição e poeira intensifica esses tons ao amanhecer e ao entardecer”, afirma Mendes.

Contudo, não se trata apenas de um fenômeno óptico. A cor intensa do céu também é sintoma de um problema maior: a inversão térmica. Esse fenômeno típico do outono e do inverno ocorre quando o ar frio se acumula próximo ao solo e é coberto por uma camada de ar quente. Essa configuração inibe a circulação do ar e impede a dispersão de poluentes, agravando a qualidade do ar, especialmente nas regiões metropolitanas.

A poluição fica presa próximo à superfície e isso afeta diretamente a saúde da população. Em áreas urbanas, onde há grande concentração de veículos, obras e atividades industriais, o acúmulo de material particulado pode desencadear problemas respiratórios e cardiovasculares”, alerta o meteorologista.

Risco de incêndios aumenta com o tempo seco e poluído

Além dos impactos na saúde, o período também é crítico para o meio ambiente. A vegetação sofre com a escassez de chuvas, o que a torna mais suscetível a incêndios. A fumaça gerada pode viajar longas distâncias e encobrir cidades, dando ao céu um aspecto acinzentado semelhante ao de dias nublados. “As partículas de carbono suspensas na atmosfera dificultam a distinção entre fumaça e nuvens comuns. Por isso, a análise precisa ser feita com suporte de imagens de satélite e critérios técnicos”, explica Mendes.

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Para lidar com esse desafio, o Simepar desenvolveu a plataforma VFogo, que monitora focos de calor em tempo real há uma década. O sistema cruza dados de satélites nacionais e internacionais, com atualizações de até 10 minutos, e utiliza inteligência artificial para processar grandes volumes de dados geoespaciais. A tecnologia é fundamental para acionar a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) em caso de suspeita de incêndios.

Em 2025, até o momento, o VFogo já detectou 258 focos de calor no Paraná. Em anos anteriores, os números foram ainda maiores: 2.704 em 2024, 1.439 em 2023, 1.778 em 2022 e 3.701 em 2021. Vale destacar que nem todo foco de calor representa, de fato, um incêndio, mas serve como alerta para a mobilização das equipes de resposta.

Segundo o CBMPR, os incêndios florestais representaram 10,8% de todos os atendimentos da corporação em 2024. Foram 13.558 ocorrências registradas até agora, mais que o dobro das 6.484 contabilizadas em 2023, um aumento de 109%.

Os números reforçam o papel fundamental da prevenção, da vigilância ambiental e da informação pública sobre os riscos associados às condições climáticas do outono e inverno. A beleza do céu alaranjado, muitas vezes celebrada nas redes sociais, também deve ser encarada como um lembrete dos impactos silenciosos da ação humana no planeta.

 

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