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Brasil enfrenta escalada da dívida pública e volta aos níveis críticos da pandemia, alerta FMI

Relatório fiscal do Fundo Monetário Internacional aponta deterioração acelerada nas contas brasileiras e projeta endividamento próximo de 100% do PIB até o fim da década

Por: João Livi Fonte: FMI
23/04/2025 às 14h45 Atualizada em 23/04/2025 às 15h09
Brasil enfrenta escalada da dívida pública e volta aos níveis críticos da pandemia, alerta FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acendeu um novo sinal de alerta sobre a situação fiscal do Brasil. Em seu relatório Monitor Fiscal, divulgado nesta quarta-feira (23), durante as Reuniões de Primavera em Washington (EUA), o organismo internacional projeta que a dívida pública bruta do país pode atingir 92% do Produto Interno Bruto (PIB) já em 2025 — um patamar semelhante ao registrado no auge da pandemia de covid-19, em 2020.

A deterioração, segundo o FMI, não apresenta sinais de reversão. Pelo contrário: se mantida a atual trajetória, a dívida brasileira poderá atingir 99,4% do PIB até 2029, estabilizando-se apenas no ano seguinte. Trata-se de um cenário preocupante, que coloca o Brasil em rota oposta à esperada consolidação fiscal e o distancia ainda mais de outras economias emergentes.

Ritmo acelerado de endividamento

Desde o fim de 2022, último ano da gestão de Jair Bolsonaro, quando a dívida bruta era equivalente a 83,9% do PIB, o avanço do indicador tem sido contínuo. As projeções atualizadas do FMI indicam que, ao final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o índice pode alcançar 96% — um salto de mais de 12 pontos percentuais. Trata-se de um aumento mais acentuado do que o previsto anteriormente, quando o Fundo calculava avanço de 10 pontos até 2026.

Essa elevação coloca o Brasil entre os maiores contribuintes para o crescimento da dívida pública global, ao lado de potências como China, França, Reino Unido, Estados Unidos e África do Sul. “Grandes economias, como Brasil, são as principais responsáveis pelo aumento da dívida pública no mundo”, afirma o FMI em seu relatório.

Diferenças metodológicas 

A forma de cálculo adotada pelo FMI considera os títulos do Tesouro detidos pelo Banco Central, o que difere da metodologia usada pelo governo brasileiro. Ainda assim, o índice é amplamente acompanhado por agências de classificação de risco e investidores internacionais como indicador da solvência de um país.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimiza os impactos da política fiscal atual sobre o avanço da dívida. Segundo ele, o principal fator de pressão está nos juros elevados, e não no resultado primário — que considera a diferença entre arrecadação e despesas, excluindo os encargos da dívida. Contudo, economistas argumentam que a manutenção de taxas de juros altas está diretamente relacionada à percepção de risco fiscal e à incapacidade do governo de conter gastos.

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Brasil se distancia dos emergentes

O cenário brasileiro também se agrava em comparação com outras economias em desenvolvimento. Enquanto o Brasil deve encerrar 2025 com dívida equivalente a 92% do PIB, a média projetada para os países emergentes é de 73,8%. Em 2024, essa média era de 69,5%. A disparidade revela a dificuldade brasileira em acompanhar padrões de responsabilidade fiscal observados em outros mercados.

Riscos globais e recomendações

O FMI também destaca que a dívida pública mundial está em trajetória de alta, devendo ultrapassar 95% do PIB global em 2025 e se aproximar dos 100% até 2030. Um dos fatores apontados para essa elevação são as incertezas políticas e econômicas provocadas por medidas protecionistas, como as tarifas comerciais defendidas por Donald Trump nos Estados Unidos.

Diante desse cenário volátil, o Fundo reforça a necessidade de ajustes fiscais. “Em meio à substancial incerteza política e a um cenário econômico em transformação, os níveis de dívida podem aumentar ainda mais”, alerta o documento.

 

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