Quinta, 10 de Abril de 2025
16°C 26°C
Marechal Cândido Rondon, PR
Publicidade

Proibição de celulares nas escolas: avanço educacional ou desafio logístico?

Nova lei sancionada visa melhorar a interação e o foco dos estudantes, mas enfrenta obstáculos na aplicação

Por: João Livi
18/01/2025 às 16h30
Proibição de celulares nas escolas: avanço educacional ou desafio logístico?
© Rovena Rosa/Agência Brasil

A recente sanção presidencial de uma lei federal que proíbe o uso de celulares em escolas públicas e privadas, durante as aulas e nos intervalos, trouxe à tona debates sobre os impactos dessa medida na rotina escolar. A norma permite exceções para uso pedagógico, desde que autorizado pelos professores, e alinha o Brasil a países como França, Espanha e Itália, que já possuem legislações semelhantes.

Embora represente um marco na busca por maior concentração e interação entre os alunos, a aplicação da nova regra levanta desafios práticos e estruturais. Experiências de estados como Rio de Janeiro e Ceará mostram que o sucesso da medida depende de conscientização, infraestrutura e envolvimento das comunidades escolares.

Impactos positivos já observados

No Rio de Janeiro, onde um decreto semelhante foi implementado em 2023, os resultados já são percebidos. Renan Ferreirinha, secretário de Educação do município, destaca a transformação nos recreios escolares. "Os diretores relatam como os recreios voltaram a ser barulhentos, com mais interação entre os estudantes, deixando para trás a imagem de crianças isoladas em suas telas", afirmou.

A implementação da medida no município é flexível. Algumas escolas permitem que os alunos mantenham os celulares nas mochilas, enquanto outras recolhem os aparelhos no início das aulas. Ferreirinha enfatiza a importância do diálogo com a comunidade escolar e da criação de protocolos para lidar com descumprimentos.

“O que precisamos é de um grande combinado social, que dê respaldo às escolas e envolva as famílias no processo”, explicou o secretário. Para ele, a tecnologia deve ser aliada da educação, mas utilizada de forma consciente.

Cenário no Ceará e desafios de adesão

No Ceará, a legislação que proíbe o uso de celulares em sala de aula existe desde 2008, mas sua aplicação foi negligenciada ao longo dos anos. Recentemente, o Ministério Público local reforçou a necessidade de cumprimento da norma. Jucineide Fernandes, secretária executiva do Ensino Médio e Profissional do estado, acredita que a conscientização e o apoio contínuo são fundamentais para o sucesso da medida.

Continua após a publicidade
Anúncio

"Não se trata apenas de proibir, mas de trabalhar a cultura digital e conscientizar os estudantes sobre o uso responsável das telas", afirmou Jucineide. No estado, estratégias como caixas para guardar celulares e perda de pontos em avaliações têm sido adotadas para minimizar as distrações.

Apesar disso, Jucineide alerta para a importância do acompanhamento pelas secretarias e para a inclusão de ações pedagógicas que promovam a educação digital, como palestras e atividades educativas.

Obstáculos estruturais nas escolas

Para Diogo de Andrade, coordenador do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro, a eficácia da nova lei pode ser comprometida por desafios estruturais. "Em turmas lotadas, é difícil para o professor monitorar o cumprimento da norma", destacou.

Andrade também aponta que o vício em redes sociais e jogos afeta a concentração dos alunos e que a proibição isolada pode não ser suficiente. "A escola precisa de suporte institucional para lidar com essa questão e criar estratégias mais abrangentes", defendeu.

Educação pública na vanguarda

A nova legislação é vista como um avanço que posiciona o Brasil entre os países que priorizam o foco e a interação social no ambiente escolar. No entanto, especialistas concordam que, para alcançar resultados significativos, é necessário um esforço conjunto entre gestores, professores, alunos e famílias.

A aplicação bem-sucedida da lei dependerá não apenas de sua regulamentação, mas também de um trabalho contínuo para promover uma cultura de uso consciente da tecnologia, transformando-a em uma aliada no processo educacional.

 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários