O dólar acima de R$ 6 não é apenas um número; é um reflexo de uma série de desequilíbrios econômicos que estão moldando os preços no Brasil. Mesmo que a maioria dos brasileiros não tenha a moeda dólar no bolso, esse cenário afeta diretamente o bolso dos consumidores, com a desvalorização da moeda nacional influenciando cada vez mais os preços finais dos produtos e serviços. Mas o que está por trás desse fenômeno?
Primeiramente é preciso entender o termo pass through. Ele refere-se ao grau de impacto que a variação cambial tem sobre os preços ao consumidor. No Brasil, o contexto atual de economia superaquecida e expectativas inflacionárias elevadas está amplificando esse repasse.
De acordo com João Fernandes, economista da Quantitas, “a economia brasileira apresenta vários desequilíbrios atualmente, com uma demanda muito superior à oferta. Isso faz com que as empresas repassem rapidamente os custos adicionais causados pela desvalorização cambial, mesmo sem saber se o dólar continuará subindo”.
A intensidade do pass through varia conforme o setor. Em alimentos, por exemplo, o repasse chega a 14%, enquanto nos bens industriais é de 8%. Serviços, por outro lado, sofrem um impacto menor, de apenas 2%.
Homero Guizzo, economista da Terra Investimentos, observa: “Em um cenário onde a economia não estivesse operando tão acima da sua capacidade, a desvalorização cambial seria absorvida mais facilmente pelas cadeias de distribuição. Hoje, isso não ocorre”.
Se antes o impacto do dólar era sentido ao longo de até quatro trimestres, agora ele ocorre quase que imediatamente. Segundo Andréa Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, “a defasagem entre a desvalorização cambial e o aumento dos preços ao consumidor diminuiu significativamente, com alguns itens apresentando ajuste em apenas um trimestre”.
Itens como móveis, eletroeletrônicos e produtos de higiene pessoal são especialmente sensíveis a essas mudanças rápidas, refletindo quase que instantaneamente a variação do dólar.
O que esperar da inflação?
Economistas projetam que a inflação continuará pressionada em 2025, refletindo a recente alta do dólar. O IPCA, que deve fechar 2024 em torno de 4,8%, pode alcançar 5,5% em 2025.
João Fernandes destaca: “O maior impacto será sentido em bens e alimentos, que estão diretamente atrelados ao câmbio. Já os serviços, que já operam em patamares elevados, devem manter essa trajetória”.
Com um ambiente de desvalorização cambial persistente, consumidores enfrentam preços mais altos em uma ampla gama de produtos, desde alimentos básicos até eletrodomésticos. A desaceleração da economia, somada a taxas de juros elevadas, cria desafios adicionais tanto para empresas quanto para indivíduos.
O dólar alto é mais do que um desafio para a economia nacional; ele é um fator que demanda atenção e planejamento por parte de consumidores e empresas. Entender os mecanismos do pass through e as dinâmicas econômicas atuais é essencial para prever impactos futuros e buscar estratégias que minimizem perdas.
A próxima vez que você visitar o supermercado ou uma loja, compare os preços com os de um mês atrás. Essa análise simples deixará claro como o dólar elevado está influenciando diretamente a sua rotina e o custo de vida.