
O agronegócio brasileiro ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão em demanda por crédito em 2024, segundo dados do Boletim de Finanças Privadas do Agro, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. O volume expressivo confirma a centralidade do setor na economia nacional, mas também expõe um desafio histórico: o acesso ao crédito ainda permanece concentrado em grandes produtores e em mecanismos tradicionais de financiamento rural.
Esse cenário tem aberto espaço para a consolidação de um novo ecossistema financeiro no campo, formado por startups especializadas, plataformas digitais e instrumentos do mercado de capitais. As chamadas agfintechs ganham protagonismo ao oferecer soluções mais flexíveis, tecnológicas e inclusivas, capazes de atender desde pequenos produtores familiares até grandes cooperativas agroindustriais.
De acordo com o relatório Radar Agtech Brasil 2024, elaborado pela Embrapa em parceria com a SP Ventures e a Homo Ludens Research, o Brasil contabiliza 97 agfintechs ativas, número que representa um crescimento de 14,1% em relação a 2023. O levantamento, que monitora o setor desde 2019, aponta a consolidação do país como um dos polos globais de inovação voltada ao agronegócio.
Entre as principais soluções estão a antecipação de recebíveis por meio de CPRs digitais, plataformas de crédito peer-to-peer, seguros paramétricos baseados em dados climáticos e sistemas integrados de gestão financeira e análise de risco. Essas ferramentas ampliam o acesso ao capital, reduzem burocracias e permitem uma avaliação mais precisa das condições produtivas no campo.
Paralelamente, o mercado de capitais tem se mostrado uma alternativa cada vez mais relevante para o financiamento rural. Com a entrada em vigor da Resolução CVM 88, em 2022, tornou-se possível realizar ofertas públicas de até R$ 15 milhões por meio de plataformas de investimento coletivo reguladas.
Esse ambiente regulatório viabilizou novas estruturas financeiras, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) pulverizados, Notas Comerciais lastreadas em recebíveis rurais e CPRs estruturadas, democratizando o acesso ao crédito para startups, pequenas empresas e produtores que antes não eram atendidos pelos grandes bancos.
O avanço das novas formas de financiamento também acompanha uma mudança no perfil dos investidores. Além da rentabilidade, cresce o interesse por projetos com impacto ambiental e social positivo, especialmente nas áreas de rastreabilidade de alimentos, agricultura regenerativa, descarbonização e soluções climáticas.
Segundo especialistas do setor, o agronegócio passa a ser visto não apenas como um motor econômico, mas como um vetor estratégico de inovação sustentável, capaz de unir retorno financeiro, tecnologia e responsabilidade ambiental.
A expectativa é de que, nos próximos anos, bilhões de reais sejam direcionados a soluções ligadas à inteligência artificial aplicada ao campo, biotecnologia, monitoramento climático, agroflorestas e plataformas digitais de crédito e seguro rural. Pela sua vocação agrícola e diversidade de biomas, o Brasil desponta como um dos países mais bem posicionados para liderar essa transformação.
Com demanda reprimida por crédito, startups em processo de escala e maior integração entre tecnologia, mercado financeiro e sustentabilidade, o agronegócio brasileiro consolida-se como um dos setores mais promissores para quem busca crescimento econômico aliado a inovação e impacto positivo.