Entre julho e agosto, uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) protagonizou uma missão científica de alto nível no Sirius, o maior e mais avançado acelerador de partículas do Hemisfério Sul. Localizado em Campinas (SP) e operado pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), o equipamento possibilita investigações profundas sobre a estrutura atômica de materiais e foi o cenário de uma imersão científica intensa com foco em energia limpa.
A equipe foi formada pelo professor Valdirlei Fernandes Freitas, do Departamento de Física da Unicentro, os pesquisadores Fernanda Barbieri de Lara e Maurício Mazur, do Programa de Pós-Graduação em Nanociências e Biociências (PPGNB), e o professor Ivair Aparecido dos Santos, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Missão aprovada em edital nacional e internacional
O projeto de pesquisa que levou os paranaenses ao Sirius foi aprovado em um edital público competitivo, com participação de propostas nacionais e internacionais. A relevância da investigação garantiu aos estudantes apoio financeiro do próprio Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), enquanto os professores foram subsidiados por iniciativas ligadas ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Materiais Ferróicos para Conversores de Energia (INCT-MatFerrce) e ao Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação Energia Zero-Carbono (Napi EZC).
Durante 48 horas ininterruptas, o grupo realizou experimentos com amostras expostas ao feixe de raio X gerado pelo síncrotron do Sirius, em revezamento contínuo, dia e noite. O objetivo foi analisar a estrutura de materiais com potencial aplicação em placas solares, contribuindo para o avanço das energias renováveis.
Alta tecnologia e impacto científico
A operação no Sirius exigiu treinamento técnico, mas a equipe assumiu o controle da linha experimental com autonomia. Para o mestrando Maurício Mazur, a experiência com a sofisticada infraestrutura científica foi marcante. Ele destacou a automação dos sistemas e a capacidade nacional de desenvolver soluções tecnológicas dentro do próprio centro.
Fernanda Barbieri de Lara, também do PPGNB, reforçou o impacto da missão em sua trajetória acadêmica. Desde a graduação, ela estuda o titanato de cálcio, composto que foi analisado durante os experimentos. Segundo Fernanda, o material é promissor para uso em sistemas fotovoltaicos, mas ainda pouco explorado na física básica. A pesquisa realizada no Sirius deve contribuir significativamente para aprofundar o conhecimento sobre suas propriedades.
Resultados promissores para o futuro da energia limpa
Embora os dados coletados ainda estejam sendo processados devido à complexidade das análises, os resultados preliminares indicam um cenário positivo. A missão não só gerou dados inéditos como também ampliou o repertório dos cientistas, que tiveram contato com outras linhas de pesquisa e tecnologias emergentes.
Tecnologia de ponta brasileira a serviço da ciência global
O Sirius é uma fonte de luz síncrotron de quarta geração, considerada uma das mais modernas do mundo. Funciona como um microscópio de altíssimo desempenho, com capacidade de acelerar elétrons a 1,07 bilhão de km/h e atingir energia de até 3 GeV. Essa radiação possibilita aplicações que vão desde o desenvolvimento de fármacos até o estudo de doenças como Alzheimer e Parkinson.
A experiência da equipe paranaense no Sirius confirma o papel estratégico do Brasil na produção de ciência de ponta e destaca o potencial da pesquisa nacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis com impacto econômico, social e ambiental.