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De soro sem valor a gigante global: a jornada de William da Silva

Fundador do Grupo Sooro Renner, empresário transforma planta desativada em referência mundial em ingredientes lácteos e projeta novo ciclo de expansão a partir de Marechal Cândido Rondon

Por: João Livi
09/12/2025 às 18h38
De soro sem valor a gigante global: a jornada de William da Silva

Acompanhe as entrevistas em vídeo no canal da Revista Especiais no You Tube.

A história de William da Silva mistura coragem tardia, visão de futuro e um apego profundo às pessoas e ao lugar onde decidiu “nascer de novo”: Marechal Cândido Rondon. Aos 59 anos, quando muitos pensam em aposentadoria, ele assumiu o risco de apostar num negócio que grandes empresas consideravam pouco promissor. Duas décadas e meia depois, o Grupo Sooro Renner está consolidado como indústria moderna, em franca expansão, com projeção mundial e planos ambiciosos para os próximos anos.

Na avaliação de William, 2025 foi um ano “maravilhoso” para o grupo. A empresa já vinha estruturada em duas frentes: a operação principal, que passou por fusão em 2019 com uma empresa do grupo Renner Tintas, e outra unidade, que pertencia à família e foi incorporada em 2025. A partir dessa aquisição, a Sooro iniciou um novo projeto industrial, ampliando portfólio e presença de mercado.

O grupo cresceu com velocidade e consistência, sustentado por uma equipe que o fundador faz questão de enaltecer: profissionais qualificados, alinhados em valores e comprometidos com o trabalho. O resultado é uma empresa capaz de atravessar fases complexas sem perder competitividade, apoiada em um produto com forte aceitação e um mercado em expansão, sobretudo na área de proteínas, que atende tanto ao segmento esportivo quanto à indústria de alimentos em geral.

Em 2025, as exportações ganharam mais fôlego. Com padrões de qualidade que, segundo William, concorrem em igualdade com Estados Unidos e Europa, a Sooro Renner encontrou espaço em mercados exigentes, sem perder posição no Brasil. As grandes multinacionais seguem como clientes relevantes, reforçando que a concorrência internacional, por enquanto, não é ameaça direta, e sim sinal de um mercado em contínuo crescimento.

Do “pepino” ao ouro branco: quando o soro virou negócio

A trajetória do grupo nasce de uma contradição: o que antes era visto pela indústria de queijo como problema - o soro, tratado como resíduo incômodo - tornou-se o coração de um negócio bilionário no mundo. William conhecia bem essa realidade. Trabalhou 22 anos em uma empresa ligada à Confepar, onde já se secava soro, mas sem que o produto tivesse o valor estratégico que hoje possui.

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Ao chegar à região como contratado de uma cooperativa (à época Sudcoop, hoje Frimesa), ele trouxe experiência acumulada em viagens à Europa, parceria com o Instituto de Laticínios Cândido Tostes e conhecimento técnico do setor. O projeto original previa apenas uma evaporadora pequena para concentrar soro e enviá-lo a Londrina, onde a Confepar faria a secagem. Na prática, o sistema não funcionou: em períodos de muito leite, a central priorizava o pó de leite, deixando o soro em segundo plano e colocando a cooperativa em situação delicada.

Com o tempo, a Sudcoop desligou-se da sociedade e recebeu a estrutura local como parte do acerto. A planta, pequena e limitada, servia para concentrar soro e produzir doce de leite. William, responsável técnico por esse processo, enxergou ali uma oportunidade num momento em que a diretoria estava sem alternativas.

A proposta foi clara: arrendar a estrutura, criar uma empresa própria e buscar soro também de terceiros. Começava ali o embrião da futura Sooro Renner. Sem capital, o grupo comprava equipamentos usados pelo Brasil, adaptava tudo dentro do próprio pátio e instalava nas indústrias fornecedoras. Em paralelo, trabalhava para convencer fabricantes de queijo a investir em qualidade, pois sem padrões mínimos o soro simplesmente não servia.

Foi um início de sacrifício: o que entrava era reinvestido, não havia carro particular, e cada avanço vinha à custa de muito trabalho. Mas o esforço deu resultado. Parceiros estratégicos, como a Alibra, surgiram para fortalecer o fluxo de produção e comercialização. Com o tempo, a empresa cresceu juntamente com esses clientes, abriu novas frentes e ganhou musculatura.

A virada com o grupo Renner e a consolidação internacional

Em 2019, a trajetória ganhou um novo capítulo com a fusão com uma empresa do grupo Renner Tintas, tradicional conglomerado centenário na área industrial. A união elevou o patamar da operação: mais estrutura, mais investimentos, mais capacidade de competir com grupos multinacionais.

Hoje, o Grupo Sooro Renner opera com tecnologia de ponta, instalações comparáveis às melhores do mundo e equipe técnica altamente especializada. Equipamentos modernos, processos refinados e padrão de qualidade internacional colocam a empresa em posição de destaque num segmento em que Brasil, Europa e Estados Unidos disputam espaço.

Coragem aos 59 anos e o sonho de gerar empregos

Quando recorda o início da jornada empresarial, William deixa claro que a decisão não foi movida por conforto, e sim por necessidade e vontade de vencer. Aos 59 anos, com pouco dinheiro e num negócio que outros grupos consideravam sem futuro, ele e a esposa, Esméria Engels, arriscaram tudo. Começaram com 13 funcionários; hoje já superam 700 colaboradores e a projeção é ultrapassar a marca de mil trabalhadores no início de 2027, impulsionados pela unidade de Francisco Beltrão.

Mais do que números, o empresário destaca um sonho antigo: gerar empregos e transformar realidades ao redor. Ao longo do caminho, duas pequenas empresas anteriores o ajudaram a amadurecer, mas foi com a Sooro Renner, em Marechal Cândido Rondon, que a visão se concretizou em larga escala.

Marechal Cândido Rondon como casa e reencontro

Mineiro de nascimento, com passagem importante por Londrina, William não hesita em definir Marechal Cândido Rondon como sua verdadeira casa. Ele diz que “nasceu de novo” no município e valoriza o carinho que recebe diariamente nas ruas, especialmente de crianças e jovens que o cumprimentam pelo nome.

Esse reconhecimento, segundo ele, é uma riqueza que não tem preço. O vínculo afetivo com a cidade se soma à relação com a indústria: amigos formados no tempo de cooperativa, laços mantidos na Frimesa e respeito mútuo com a comunidade rondonense criaram uma base sólida de pertencimento.

Pessoas em primeiro lugar: máquinas se compram, gente se conquista

Se há um eixo que permeia toda a fala de William, é o valor das pessoas. Em sua visão, equipamentos podem ser adquiridos em qualquer parte do mundo; o ser humano, não. Pessoas precisam ser conquistadas, respeitadas e cuidadas.

Do cortador de grama ao diretor, todos merecem o mesmo cumprimento, o mesmo olhar, a mesma atenção. Para ele, hierarquia organiza funções, mas não separa dignidades. Essa filosofia, construída ao longo de décadas, orienta o ambiente interno do grupo, que é frequentemente apontado pelos colaboradores como um dos melhores lugares para se trabalhar.

Um prêmio que reconhece o ser humano, não apenas o empresário

Em 2025, após 38 anos em Marechal Cândido Rondon, sendo 25 como empresário, William foi agraciado com a comenda de Personalidade Empresarial, dentro do Prêmio Marechal Rondon. O reconhecimento, recebido com surpresa, teve efeito especial porque, para ele, não celebrava apenas o dirigente, mas o “William pessoa”.

Depois de uma vida inteira de trabalho, inclusive já aposentado da função executiva, ver seu nome ser aplaudido pela comunidade teve forte impacto emocional. O prêmio soma-se a outras homenagens estaduais e setoriais, mas ocupa um lugar à parte por traduzir o respeito da cidade onde construiu sua história.

Conselho, sucessão e rotina de quem não parou de sonhar

Hoje, William não ocupa mais a presidência do Grupo Sooro Renner. Atua no conselho, ao lado de outros membros da família e de representantes do grupo Renner. As grandes decisões são tomadas nesse colegiado, em um ambiente que ele descreve como harmonioso, sem impasses que não possam ser resolvidos em conjunto.

No dia a dia da empresa, sua presença é constante. Caminha pelos setores, conversa com diretores e colaboradores, opina sobre projetos, troca ideias e ajuda a preparar o futuro. As contribuições informais abastecem o conselho com visões amadurecidas pela experiência de quem acompanhou cada etapa da construção do grupo.

Produtos de alto valor agregado e nova fronteira em Francisco Beltrão

A linha de produtos da Sooro Renner tem como destaque os concentrados proteicos de soro do leite, conhecidos como WPC, e o isolado proteico, item de altíssimo valor agregado e, segundo William, único produzido na América Latina nos moldes em que a empresa atua. Para se obter um lote de WPC de alto padrão, é necessário processar grande volume de outros produtos intermediários. Isso gera uma cadeia de itens que abastecem diferentes segmentos.

Os WPC e o isolado são procurados no mundo inteiro, usados em suplementos esportivos, alimentos infantis, fórmulas especiais e aplicações industriais de alta performance. A demanda é tão grande que, mesmo com produção robusta, a empresa ainda não consegue atender todo o mercado brasileiro, abrindo espaço para importações que complementam, e não substituem, o produto nacional.

Em Francisco Beltrão, um novo capítulo está em construção. A unidade nasce do zero, com projeto industrial moderno e foco em produtos inovadores, inclusive voltados para a área farmacêutica e nutrição infantil, atendendo demandas de grandes marcas globais. O maquinário já está sendo instalado, e a planta ampliará a capacidade do grupo sem reduzir a relevância da unidade de Marechal Cândido Rondon, que continuará sendo referência operacional e tecnológica.

Futuro aberto, mas com rota clara: crescer com responsabilidade

Questionado sobre o futuro do Grupo Sooro Renner, William evita previsões grandiosas, mas reconhece que há inúmeras oportunidades de crescimento. O grupo recebe sondagens para novos negócios, ampliou sua atuação com a compra de uma indústria de manteiga e está cada vez mais conhecido no cenário internacional, inclusive por concorrentes que já vieram conhecer de perto a operação.

Sem abrir mão da prudência, a empresa segue investindo em tecnologia, infraestrutura, pessoas e novos produtos. A base, porém, continua a mesma: respeito ao ser humano, compromisso com qualidade e gratidão à cidade que acolheu o sonho de um empreendedor que decidiu recomeçar quando muitos já pensam em parar.

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