Sexta, 14 de Novembro de 2025
19°C 24°C
Marechal Cândido Rondon, PR
Publicidade

Lucros recordes na saúde suplementar levantam questionamentos sobre a real eficiência do setor

Análise do especialista Murilo Wadt aponta dependência de ganhos financeiros e vulnerabilidades estruturais nas operadoras

Por: João Livi Fonte: Agência Motim
14/11/2025 às 08h24
Lucros recordes na saúde suplementar levantam questionamentos sobre a real eficiência do setor
Murilo Wadt, cofundador e diretor-geral da HealthBit. (Foto: Bernardo Coelho)

Os dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre o desempenho dos planos de saúde no primeiro semestre de 2025 chamam atenção pelo volume. O setor registrou R$ 189 bilhões em receitas e alcançou R$ 12,9 bilhões de lucro líquido, o maior da série histórica recente. A margem ficou próxima de 7%, índice que, isoladamente, indicaria grande solidez.

No entanto, uma análise detalhada demonstra que o resultado tem componentes conjunturais relevantes e revela fragilidades operacionais que ainda cercam a sustentabilidade do setor no longo prazo. É o que aponta o especialista Murilo Wadt, cofundador e diretor-geral da HealthBit, em avaliação técnica sobre o cenário atual da saúde suplementar.

Ganho financeiro supera resultado assistencial

Mais da metade do lucro líquido do semestre - R$ 6,8 bilhões - não veio diretamente da operação assistencial, mas sim do resultado financeiro das operadoras. Com aproximadamente R$ 130 bilhões em caixa, o setor se beneficiou do ambiente de juros elevados, que ampliou os retornos obtidos em aplicações, especialmente em títulos públicos e fundos de renda fixa.

Esse fator coloca as operadoras em forte correlação com a política monetária. Uma eventual queda na taxa Selic nos próximos trimestres tende a reduzir substancialmente a rentabilidade, mesmo que a operação em saúde se mantenha estável.

Sinistralidade recua, mas com múltiplas causas

A sinistralidade apresentou melhora e fechou o semestre em 81,1%, o menor patamar desde 2018, excetuando o ano atípico da pandemia. Embora o índice indique menor proporção de gastos assistenciais, parte dessa redução está associada a elementos conjunturais.

Entre os fatores que impulsionaram o movimento, a análise destaca:

Continua após a publicidade
Anúncio

1. Reajustes de mensalidades

Os reajustes autorizados pela ANS e os aplicados nos planos coletivos elevaram significativamente a receita das operadoras em 2025.

2. Avanços na gestão de custos

Protocolos clínicos mais rígidos, verticalização da rede e negociações mais eficientes com prestadores reduziram despesas.

3. Defasagem no registro das despesas médicas

Em períodos de reajustes elevados, as receitas aumentam de imediato, enquanto parte das despesas é registrada posteriormente. Essa diferença temporal pode inflar temporariamente a percepção do resultado.

Testes de estresse mostram vulnerabilidade operacional

O setor reportou R$ 6,3 bilhões de resultado operacional no semestre. No entanto, simulações mostram que um aumento modesto na sinistralidade - cenário compatível com o avanço da inflação médica - teria potencial para reduzir significativamente esse valor, evidenciando sua sensibilidade.

Entre operadoras de pequeno porte, essa fragilidade é ainda mais perceptível. O grupo apresentou resultado operacional negativo de R$ 159 milhões. O lucro líquido de R$ 778 milhões só foi viável graças ao desempenho financeiro de R$ 900 milhões e ao resultado patrimonial de R$ 232,9 milhões. Os números indicam que esse segmento depende de forma significativa do rendimento de aplicações financeiras.

Cenário impõe desafios estratégicos

Conforme a análise de Wadt, a sustentabilidade do setor depende de avanços estruturais na eficiência assistencial. Pressões inflacionárias sobre custos médicos, associadas à possível redução dos juros nos próximos ciclos econômicos, podem afetar a capacidade de manutenção das margens atuais.

Para empresas contratantes de planos corporativos, o cenário reforça a necessidade de modelos de gestão de saúde que proporcionem previsibilidade e controle de custos. Para as operadoras, a busca por novas práticas de eficiência assistencial surge como prioridade estratégica.

Veja aqui os dados econômico-financeiros do 1° semestre de 2025 das operadoras de planos de saúde.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários