“Caminhando pelo deserto deste mundo, parei num sítio onde havia uma caverna: ali deitei-me para descansar. Em breve adormeci e tive um sonho”. Assim começa a parábola do funileiro John Bunyan (1628-1688), descrita em livro de sua autoria nominado “O peregrino”. Bunyan nunca imaginou que seu livro se tornaria um best seller da literatura mundial.
A história contada por Bunyan, na Inglaterra do século XVII, pode ser resumida como o discurso de alguém inconformado com a sociedade do seu tempo e com sua própria situação espiritual. A “caverna” é uma alusão a prisão onde Bunyan ficou encarcerado por causa de suas ideias sobre práticas religiosas. O “sonho”, o pretexto para expressar a mensagem.
Bunyan criou personagens e uma geografia cheia de metáforas que tornou sua mensagem contundente: O “Sábio deste mundo”, o “Formalista” e o “Senhor Hipocrisia”, por exemplo, eram fidalgos que pertenciam à nobreza e, portanto seus melhores intérpretes. Já os “Peregrinos” eram de “condição baixa e vil”. “Fiel”, um dos peregrinos, que acompanhou “Cristão”, após ter sido preso, foi levado ante o “Lorde Odeia o Bem” por haver caluniado vários aristocratas e “a maior parte dos fidalgos da cidade”.
Angustiantes foram as passagens pelo “Castelo da Dúvida”, “Pântano da Desconfiança”, Vales da “Humilhação” e da “Sombra da Morte”. Perigosa foi a travessia pela “Terra Encantada”, imagem da corrupção de um mundo em tempos de sossego e prosperidade.
“O Peregrino”, tem o sentido de uma “viagem” em direção à “Cidade dos Bem-aventurados”. Na jornada, “Cristão” e “Fiel” são atrapalhados por “Loquaz”, pessoa que tem uma resposta “inteligente” para tudo.
“Loquaz” é ainda identificado como aquele que possui uma presunção tão néscia capaz de fazer calar todos diante dele: “Que jactância tinha Loquaz! Com que soberba e orgulho se inchava como um peru”. E foi contando apenas com o auxílio de alguns poucos e sinceros amigos como “Esperança” e “Fiel”, que “Cristão Peregrino” chegou ao seu alvo.
A parábola do funileiro Bunyan virou clássico da literatura universal. As metáforas sobre a natureza humana arquitetadas pelo autor são sem precedentes. É certamente um livro para ser lido mais de uma vez. E o que mais instiga, é descobrir que foi escrito por um homem sem instrução formal, autodidata, mas que sabia observar com perspicácia a sociedade onde vivia.