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Os ensinos de Ben Sirac

Tarcísio Vanderlinde*

Por: João Livi
26/05/2025 às 19h56
Os ensinos de Ben Sirac
Tarcisio Vanderlinde.

De acordo com explicações literárias contidas na Bíblia de Jerusalém, o livro Eclesiástico, diferente do Eclesiastes, faz parte da Bíblia grega, mas não figura no cânon judaico. É um dos livros deuterocanônicos admitidos no âmbito do cristianismo.

Jerônimo, um dos tradutores da Bíblia conheceu o texto no original e os rabinos o citaram. Fragmentos deste escrito foram encontrados nas famosas cavernas de Qumran junto a outros textos bíblicos e literários.

Segundo a paleografia, os texto já era utilizado em comunidades cristãs primitivas. O autor conhecido como Ben Sirac aparece citado no livro. Apesar disso, o texto consta numa lista de livros considerados apócrifos, ou seja de origem suspeita ou duvidosa.

Martinho Lutero refletiu sobre uma lista de livros que faziam parte da Bíblia e que os eruditos consideravam ter pouca autenticidade. Contudo, apesar de não considerar inspirado, o reformador não deixou de recomendar a leitura destes livros, pois via neles muitos ensinamentos práticos para a vida.

O texto de Ben Sirac revela um autor atento ao que acontecia no cotidiano e procurou tirar dali lições que permitissem aos seus leitores uma vida longa e equilibrada. Ao se debruçar sobre o texto, o leitor do século XXI se surpreenderá com sugestões que ultrapassaram mais de dois milênios e estão presentes nos compêndios jurídicos ou no linguajar popular.

O Estatuto do Idoso, por exemplo, aparece neste livro nas recomendações dadas aos filhos sobre o cuidado com os pais: “Filho, cuida de teu pai na velhice, não o desgostes em vida. Mesmo se a sua inteligência falhar, sê indulgente com ele, não o menosprezes, tu que estás em pleno vigor”.

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O conhecido ditado que diz que “o peixe morre pela boca” aparece no texto nas seguintes palavras: “Sê pronto para escutar, mas lento para dizer a resposta. Se sabes algo responde a teu próximo; se não, põe a tua mão sobre a boca. Honra e confusão acompanham o loquaz e a língua do homem é a sua ruína”. Uma paráfrase deste provérbio aparece também no texto canônico do apóstolo Tiago.

Entre outros assuntos, o texto apresenta diversas instruções sobre amizade: “Um amigo fiel é um poderoso refúgio, o que o descobriu, descobriu um tesouro”. Contudo, alerta sobre falsas amizades, ou amizades de conveniência. Uma destas citações cabe como uma luva no mundo pós-moderno das amizades sustentadas por redes sociais: “Sejam numerosas as tuas relações, mas os teus conselheiros, um entre mil”.

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