Solicitude é palavra chave no livro “O paradoxo da solidão” de autoria do sacerdote holandês Henry Nouwen (1932-1996). Segundo Nouwen, a solicitude pode emergir de uma boa prática de solidão.
Autor de 40 livros, quase todos sobre espiritualidade, Nouwen teve passagens pelas universidades de Harvard e Yale, além de se envolver com populações empobrecidas do Peru e com pessoas que apresentavam deficiência mental em escolas da Europa e Canadá.
Ele conta que alguns anos antes de escrever o livro, encontrou um velho professor na Universidade de Notre Dame. Rememorando sua longa vida de ensino, ele havia proferido a ele uma frase com um engraçado lampejo nos olhos: “Estive sempre a queixar-me que meu trabalho era constantemente interrompido, até que lentamente descobri que minhas interrupções eram o meu trabalho”.
Baseados nos ensinos de Cristo, Nouwen sugere a necessidade de solidão para se pôr a casa em ordem de vez em quando. Ele lembra que o Mestre costumava madrugar e se dirigir a lugares desertos onde fazia suas orações.
A solidão seria capaz de devolver o caráter humano em constante risco de ser desfigurado pelo excesso de distrações que a modernidade costuma oferecer. Além disso, ele considera que “seja onde for, sabemos que sem um lugar solitário nossas ações rapidamente se transformam em gestos vazios”.
A ânsia de ser útil na sociedade em que se vive move positivamente muitas pessoas, mas só a experiência de solidão é que levaria o sujeito a descobrir que não somos o que podemos conquistar, somos de fato a partir do que nos é dado.
É na solidão que se descobre que a vida não é uma propriedade a ser defendida, mas um dom a ser repartido. É na solidão que também se pode envelhecer livremente sem se preocupar com a utilidade, de por exemplo, oferecer um serviço novo.
É da solidão enfim, que pode emergir a solicitude, o cuidado com o outro. Na solicitude não tem barganha. O amigo que tem solicitude é aquele que fica em silêncio ao nosso lado num momento de desespero e confusão. Que pode até não saber o que dizer, mas que encara conosco a realidade de nossa fraqueza. É a atitude humana corajosa de estar presente um ao outro.
“No pouco tempo de que dispomos para viver, podemos fazê-lo criativamente quando o vivemos pela solidão, a saber desprendidos dos resultados do nosso trabalho. E quando o vivemos com solicitude, chorando com os que choram”, conclui Nouwen.
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