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A história de William da Silva mistura coragem tardia, visão de futuro e um apego profundo às pessoas e ao lugar onde decidiu “nascer de novo”: Marechal Cândido Rondon. Aos 59 anos, quando muitos pensam em aposentadoria, ele assumiu o risco de apostar num negócio que grandes empresas consideravam pouco promissor. Duas décadas e meia depois, o Grupo Sooro Renner está consolidado como indústria moderna, em franca expansão, com projeção mundial e planos ambiciosos para os próximos anos.
Na avaliação de William, 2025 foi um ano “maravilhoso” para o grupo. A empresa já vinha estruturada em duas frentes: a operação principal, que passou por fusão em 2019 com uma empresa do grupo Renner Tintas, e outra unidade, que pertencia à família e foi incorporada em 2025. A partir dessa aquisição, a Sooro iniciou um novo projeto industrial, ampliando portfólio e presença de mercado.
O grupo cresceu com velocidade e consistência, sustentado por uma equipe que o fundador faz questão de enaltecer: profissionais qualificados, alinhados em valores e comprometidos com o trabalho. O resultado é uma empresa capaz de atravessar fases complexas sem perder competitividade, apoiada em um produto com forte aceitação e um mercado em expansão, sobretudo na área de proteínas, que atende tanto ao segmento esportivo quanto à indústria de alimentos em geral.
Em 2025, as exportações ganharam mais fôlego. Com padrões de qualidade que, segundo William, concorrem em igualdade com Estados Unidos e Europa, a Sooro Renner encontrou espaço em mercados exigentes, sem perder posição no Brasil. As grandes multinacionais seguem como clientes relevantes, reforçando que a concorrência internacional, por enquanto, não é ameaça direta, e sim sinal de um mercado em contínuo crescimento.
A trajetória do grupo nasce de uma contradição: o que antes era visto pela indústria de queijo como problema - o soro, tratado como resíduo incômodo - tornou-se o coração de um negócio bilionário no mundo. William conhecia bem essa realidade. Trabalhou 22 anos em uma empresa ligada à Confepar, onde já se secava soro, mas sem que o produto tivesse o valor estratégico que hoje possui.
Ao chegar à região como contratado de uma cooperativa (à época Sudcoop, hoje Frimesa), ele trouxe experiência acumulada em viagens à Europa, parceria com o Instituto de Laticínios Cândido Tostes e conhecimento técnico do setor. O projeto original previa apenas uma evaporadora pequena para concentrar soro e enviá-lo a Londrina, onde a Confepar faria a secagem. Na prática, o sistema não funcionou: em períodos de muito leite, a central priorizava o pó de leite, deixando o soro em segundo plano e colocando a cooperativa em situação delicada.
Com o tempo, a Sudcoop desligou-se da sociedade e recebeu a estrutura local como parte do acerto. A planta, pequena e limitada, servia para concentrar soro e produzir doce de leite. William, responsável técnico por esse processo, enxergou ali uma oportunidade num momento em que a diretoria estava sem alternativas.
A proposta foi clara: arrendar a estrutura, criar uma empresa própria e buscar soro também de terceiros. Começava ali o embrião da futura Sooro Renner. Sem capital, o grupo comprava equipamentos usados pelo Brasil, adaptava tudo dentro do próprio pátio e instalava nas indústrias fornecedoras. Em paralelo, trabalhava para convencer fabricantes de queijo a investir em qualidade, pois sem padrões mínimos o soro simplesmente não servia.
Foi um início de sacrifício: o que entrava era reinvestido, não havia carro particular, e cada avanço vinha à custa de muito trabalho. Mas o esforço deu resultado. Parceiros estratégicos, como a Alibra, surgiram para fortalecer o fluxo de produção e comercialização. Com o tempo, a empresa cresceu juntamente com esses clientes, abriu novas frentes e ganhou musculatura.
Em 2019, a trajetória ganhou um novo capítulo com a fusão com uma empresa do grupo Renner Tintas, tradicional conglomerado centenário na área industrial. A união elevou o patamar da operação: mais estrutura, mais investimentos, mais capacidade de competir com grupos multinacionais.
Hoje, o Grupo Sooro Renner opera com tecnologia de ponta, instalações comparáveis às melhores do mundo e equipe técnica altamente especializada. Equipamentos modernos, processos refinados e padrão de qualidade internacional colocam a empresa em posição de destaque num segmento em que Brasil, Europa e Estados Unidos disputam espaço.
Quando recorda o início da jornada empresarial, William deixa claro que a decisão não foi movida por conforto, e sim por necessidade e vontade de vencer. Aos 59 anos, com pouco dinheiro e num negócio que outros grupos consideravam sem futuro, ele e a esposa, Esméria Engels, arriscaram tudo. Começaram com 13 funcionários; hoje já superam 700 colaboradores e a projeção é ultrapassar a marca de mil trabalhadores no início de 2027, impulsionados pela unidade de Francisco Beltrão.
Mais do que números, o empresário destaca um sonho antigo: gerar empregos e transformar realidades ao redor. Ao longo do caminho, duas pequenas empresas anteriores o ajudaram a amadurecer, mas foi com a Sooro Renner, em Marechal Cândido Rondon, que a visão se concretizou em larga escala.
Mineiro de nascimento, com passagem importante por Londrina, William não hesita em definir Marechal Cândido Rondon como sua verdadeira casa. Ele diz que “nasceu de novo” no município e valoriza o carinho que recebe diariamente nas ruas, especialmente de crianças e jovens que o cumprimentam pelo nome.
Esse reconhecimento, segundo ele, é uma riqueza que não tem preço. O vínculo afetivo com a cidade se soma à relação com a indústria: amigos formados no tempo de cooperativa, laços mantidos na Frimesa e respeito mútuo com a comunidade rondonense criaram uma base sólida de pertencimento.
Se há um eixo que permeia toda a fala de William, é o valor das pessoas. Em sua visão, equipamentos podem ser adquiridos em qualquer parte do mundo; o ser humano, não. Pessoas precisam ser conquistadas, respeitadas e cuidadas.
Do cortador de grama ao diretor, todos merecem o mesmo cumprimento, o mesmo olhar, a mesma atenção. Para ele, hierarquia organiza funções, mas não separa dignidades. Essa filosofia, construída ao longo de décadas, orienta o ambiente interno do grupo, que é frequentemente apontado pelos colaboradores como um dos melhores lugares para se trabalhar.
Em 2025, após 38 anos em Marechal Cândido Rondon, sendo 25 como empresário, William foi agraciado com a comenda de Personalidade Empresarial, dentro do Prêmio Marechal Rondon. O reconhecimento, recebido com surpresa, teve efeito especial porque, para ele, não celebrava apenas o dirigente, mas o “William pessoa”.
Depois de uma vida inteira de trabalho, inclusive já aposentado da função executiva, ver seu nome ser aplaudido pela comunidade teve forte impacto emocional. O prêmio soma-se a outras homenagens estaduais e setoriais, mas ocupa um lugar à parte por traduzir o respeito da cidade onde construiu sua história.
Hoje, William não ocupa mais a presidência do Grupo Sooro Renner. Atua no conselho, ao lado de outros membros da família e de representantes do grupo Renner. As grandes decisões são tomadas nesse colegiado, em um ambiente que ele descreve como harmonioso, sem impasses que não possam ser resolvidos em conjunto.
No dia a dia da empresa, sua presença é constante. Caminha pelos setores, conversa com diretores e colaboradores, opina sobre projetos, troca ideias e ajuda a preparar o futuro. As contribuições informais abastecem o conselho com visões amadurecidas pela experiência de quem acompanhou cada etapa da construção do grupo.
A linha de produtos da Sooro Renner tem como destaque os concentrados proteicos de soro do leite, conhecidos como WPC, e o isolado proteico, item de altíssimo valor agregado e, segundo William, único produzido na América Latina nos moldes em que a empresa atua. Para se obter um lote de WPC de alto padrão, é necessário processar grande volume de outros produtos intermediários. Isso gera uma cadeia de itens que abastecem diferentes segmentos.
Os WPC e o isolado são procurados no mundo inteiro, usados em suplementos esportivos, alimentos infantis, fórmulas especiais e aplicações industriais de alta performance. A demanda é tão grande que, mesmo com produção robusta, a empresa ainda não consegue atender todo o mercado brasileiro, abrindo espaço para importações que complementam, e não substituem, o produto nacional.
Em Francisco Beltrão, um novo capítulo está em construção. A unidade nasce do zero, com projeto industrial moderno e foco em produtos inovadores, inclusive voltados para a área farmacêutica e nutrição infantil, atendendo demandas de grandes marcas globais. O maquinário já está sendo instalado, e a planta ampliará a capacidade do grupo sem reduzir a relevância da unidade de Marechal Cândido Rondon, que continuará sendo referência operacional e tecnológica.
Questionado sobre o futuro do Grupo Sooro Renner, William evita previsões grandiosas, mas reconhece que há inúmeras oportunidades de crescimento. O grupo recebe sondagens para novos negócios, ampliou sua atuação com a compra de uma indústria de manteiga e está cada vez mais conhecido no cenário internacional, inclusive por concorrentes que já vieram conhecer de perto a operação.
Sem abrir mão da prudência, a empresa segue investindo em tecnologia, infraestrutura, pessoas e novos produtos. A base, porém, continua a mesma: respeito ao ser humano, compromisso com qualidade e gratidão à cidade que acolheu o sonho de um empreendedor que decidiu recomeçar quando muitos já pensam em parar.