A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central em 18 de novembro de 2025, entrou em uma nova fase e ameaça atingir um público muito maior do que os depositantes e aplicadores diretos da instituição. O Instituto Empresa, entidade que atua desde 2017 na defesa de investidores e na promoção da governança corporativa, alerta para o avanço de uma “segunda onda” de impactos, agora sobre investidores que jamais tiveram qualquer relação direta com o banco, mas que podem estar expostos por meio de fundos de investimento, fundos de pensão, previdência complementar e carteiras administradas.
O problema é que muitos gestores aplicaram recursos dos cotistas em veículos que, por sua vez, detinham ativos, garantias ou derivativos ligados ao Banco Master. Sem perceber, o investidor comum pode estar carregando um risco que sequer sabia existir. E, nesses casos, não há cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
A Oncoclínicas S.A. (ONCO3) tornou-se um dos exemplos mais simbólicos dessa contaminação. A companhia declarou ter cerca de R$ 433 milhões aplicados em CDBs do Banco Master, dos quais R$ 217 milhões já estavam provisionados. O restante - aproximadamente R$ 216 milhões - ainda compõe sua exposição contábil. A repercussão direta surge na desvalorização das ações e de títulos como CRIs emitidos pela própria empresa, que passam a ser vistos com mais cautela pelo mercado.
O quadro se agrava porque a mesma companhia já havia registrado perdas relevantes relacionadas à Ambipar, que entrou em recuperação judicial. Esse conjunto de fragilidades acende um alerta para riscos de crédito e de governança que acabam recaindo sobre quem investe via fundos - mesmo sem ter escolhido esses emissores.
“Mesmo quem nunca investiu nos CDBs do Banco Master sofrerá efeitos por decisões dos gestores de companhias, fundos e planos de previdência”, afirma Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.
A crise também expõe fragilidades de Regimes Próprios de Previdência e entidades de previdência complementar. Um dos casos de destaque é o RioPrevidência, que aportou cerca de R$ 2 bilhões no Banco Master entre maio e julho deste ano, quando a crise já era amplamente conhecida. A AmazonPrev também registrou perda superior a R$ 50 milhões.
Segundo o Instituto Empresa, episódios como esse podem resultar em impactos duradouros, que só serão percebidos pelos beneficiários anos à frente, seja na redução do valor das aposentadorias, seja na necessidade de contribuições extras - como já ocorreu em fundos como Postalis, Previ e Aeros.
O alerta principal recai sobre o dever fiduciário dos gestores. Eles administram recursos de terceiros e, portanto, devem selecionar, monitorar e reavaliar os ativos continuamente. Se falham - por apatia, conflito de interesses ou negligência - podem ser responsabilizados.
Para o Instituto Empresa, os cotistas devem exigir informações claras e imediatas, especialmente sobre:
A parcela da carteira vinculada, direta ou indiretamente, ao Banco Master;
As provisões já reconhecidas;
Os sinais de alerta e as medidas tomadas ao longo de 2025;
A estratégia para habilitação como credor na liquidação extrajudicial.
Caso haja indícios de inércia, o investidor pode recorrer à Justiça. A entidade avalia inclusive ações coletivas para responsabilização em casos de omissão.
O Banco Central justificou a liquidação pela “grave crise de liquidez” e “violações severas às normas do Sistema Financeiro Nacional”. Embora o FGC limite parte das perdas para pequenos aplicadores, o impacto real se espalha por fundos, carteiras e previdência complementar, ampliando o risco de crédito, de reputação e de liquidez no mercado.
O Instituto Empresa reforça que o investidor não pode se limitar ao extrato mensal. É essencial questionar, exigir a abertura da carteira e compreender a real exposição aos emissores que compõem o fundo ou a previdência contratada. Quanto mais opaca a gestão, maior a chance de que riscos escondidos estejam prestes a se materializar.
A crise do Banco Master, agora em sua segunda onda, revela uma dura realidade do mercado financeiro: mesmo quem nunca ouviu falar de um banco pode pagar caro por decisões tomadas em seu nome.