Emprego Burnout Médico
Burnout e desigualdade de gênero antecipam aposentadoria entre médicos jovens, aponta pesquisa
Estudo da Medscape mostra que 9% dos profissionais com menos de 45 anos pretendem encerrar a carreira precocemente por esgotamento físico e emocional
17/10/2025 10h29
Por: João Livi Fonte: Madscape
Pesquisa da Medscape revela que o burnout e a desigualdade de gênero estão antecipando planos de aposentadoria entre médicos jovens no Brasil. (Foto: Divulgação)

A pressão crescente sobre a rotina médica, somada ao desgaste emocional e às desigualdades de gênero, tem levado parte dos médicos brasileiros a antecipar o fim da carreira. Segundo pesquisa da Medscape, 9% dos médicos com menos de 45 anos citam o burnout como motivo para aposentar-se mais cedo, enquanto 59% dos jovens profissionais relatam sintomas de esgotamento. O levantamento ouviu 1.240 médicos de diferentes regiões do país e revela um cenário preocupante sobre o futuro da medicina no Brasil.

Embora muitos apontem a aposentadoria como uma oportunidade para buscar equilíbrio e novos projetos de vida, o estudo mostra que os desafios psicológicos e financeiros pesam na decisão. Entre os médicos mais jovens, o cansaço mental aparece lado a lado com o desejo de ter mais tempo para a família (56%, contra 42% dos profissionais mais velhos).

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As médicas mulheres enfrentam um quadro ainda mais desigual: 57% delas relatam sinais de burnout, frente a 51% dos homens, e demonstram menor confiança na estabilidade financeira do futuro. Segundo a Medscape, a combinação de sobrecarga emocional e desigualdade estrutural está influenciando diretamente os planos de aposentadoria feminina.

Diferenças de idade e gênero moldam o futuro da profissão

O estudo aponta que a média de aposentadoria prevista pelos médicos com menos de 45 anos é de 60 anos, enquanto profissionais mais experientes pretendem seguir ativos até os 70 ou 80 anos. Entre os homens, 21% dizem querer trabalhar até os 80 anos ou mais - o dobro do percentual entre as mulheres (10%).

A pesquisa também mostra diferentes planos para o período pós-carreira:

A renda projetada para a aposentadoria reflete a desigualdade de gênero: os homens estimam precisar de R$ 25 mil mensais, enquanto as mulheres calculam cerca de R$ 19 mil, resultando em uma média de R$ 23 mil. As principais fontes de renda são poupança e investimentos (82%), pensão do governo (64%), previdência privada (48%) e imóveis (42%). Apesar disso, apenas 36% dos médicos recorrem a consultores financeiros para planejar o futuro.

Aposentadoria: entre o alívio e o medo da perda de identidade

As percepções sobre a aposentadoria também revelam ambivalência. Enquanto 43% acreditam que se sentirão bem e 18% esperam alívio, 13% preveem tristeza com o desligamento da profissão. Entre os mais jovens, prevalece a sensação de alívio; entre os mais velhos, o receio está ligado à perda de propósito e identidade profissional.

A maioria (62%) considera que a idade influencia diretamente a capacidade de exercer a medicina, e mais de metade acredita que, a partir dos 75 anos, o médico já está “muito idoso” para atuar. Ainda assim, muitos veem a aposentadoria como um processo gradual - não um rompimento. “Para quem sempre trabalhou, é difícil parar abruptamente”, relatou uma anestesista ouvida pelo estudo.