Saúde No climatério
Audiência pública na ALEP quebra o silêncio sobre o climatério e reforça necessidade de políticas públicas para a saúde feminina
Debate propõe combater a desinformação e transformar o climatério em tema de cuidado, acolhimento e reconhecimento da mulher madura
14/10/2025 16h44
Por: João Livi Fonte: GRIS
A médica Alexandra Ongaratto, especialista em ginecologia endócrina e climatério e diretora técnica do Instituto GRIS, destacou na audiência pública da ALEP que compreender o climatério como um processo natural é essencial para oferecer às mulheres soluçõ

O climatério, fase natural da vida feminina marcada por transformações hormonais e emocionais, ainda é cercado de silêncio e desinformação. Para enfrentar esse cenário, a Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) promoveu uma audiência pública que colocou o tema no centro das discussões sobre saúde da mulher. A iniciativa partiu da deputada Mabel Canto (PP), líder da Bancada Feminina, em parceria com outros parlamentares e especialistas, com o objetivo de dar visibilidade à pauta e ampliar o acesso das mulheres à informação e ao cuidado.

Durante o debate, Mabel Canto destacou que muitas mulheres não reconhecem o climatério como um processo biológico legítimo, o que dificulta a busca por acompanhamento médico adequado. Ela lembrou que o Paraná sancionou recentemente a Lei nº 22.478, que estabelece prioridade à atenção à saúde no climatério, com foco em campanhas educativas, assistência especializada e incentivo à pesquisa. “Precisamos falar sobre o climatério sem tabus. Informação é cuidado, e cuidado é política pública”, reforçou a deputada.

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Sintomas invisíveis, impactos reais

A médica Alexandra Ongaratto, especialista em ginecologia endócrina e climatério e diretora técnica do Instituto GRIS, destacou que a falta de conhecimento leva muitas mulheres a acreditarem que vivem uma “crise da meia-idade”. Segundo ela, nomear corretamente o que ocorre com o corpo feminino é fundamental para o acolhimento e o tratamento adequados.
Quando entendemos o climatério como um processo natural, conseguimos oferecer soluções baseadas em ciência, não em estigmas”, afirmou a médica.

Um estudo multicêntrico internacional citado por Alexandra reforça a urgência do debate. A pesquisa Experiência e Atitudes na Menopausa, realizada pela farmacêutica Astellas, revelou que apenas 28% dos entrevistados consideram a menopausa algo positivo, enquanto dois terços afirmam que seus sintomas não são levados a sério. Além disso, 79% das pessoas acreditam que a sociedade valoriza mais a juventude do que a experiência e sabedoria feminina.

Desinformação e mercado de trabalho

A desinformação também impacta diretamente o ambiente profissional. Segundo Alexandra, cerca de metade das mulheres relata queda de desempenho durante o climatério, mas quase nenhuma se sente à vontade para falar sobre isso com seus gestores. Apenas 29% conversam sobre o tema no trabalho, e 80% afirmam não receber apoio das empresas.
Esses dados revelam que o silêncio em torno da menopausa ultrapassa a esfera médica e se estende ao campo social e econômico, gerando invisibilidade e preconceito.

Estigma e ciência

Durante a audiência, especialistas explicaram que a queda progressiva do estrogênio afeta diretamente o cérebro - órgão com alta concentração de receptores hormonais - e está relacionada a sintomas como fadiga, lapsos de memória, ansiedade e insônia. A falta de tratamento adequado pode aumentar o risco de AVC, declínio cognitivo precoce e fraturas osteoporóticas.

Para Alexandra Ongaratto, reconhecer a individualidade de cada mulher e facilitar o acesso a terapias seguras é fundamental. “Tratar na janela correta, entre sete e dez anos da transição menopausal, salva vidas e preserva qualidade de vida. A informação é a maior arma que temos”, concluiu.

A audiência pública representou um passo importante na quebra do tabu sobre o climatério e na construção de políticas públicas voltadas à saúde integral da mulher, reforçando a importância da informação, do acolhimento e do protagonismo feminino em todas as fases da vida.