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Ansiedade e depressão afetam 8 em cada 10 estudantes brasileiros, revela estudo do Instituto Ayrton Senna
Levantamento com 89 mil alunos de cinco estados aponta relação direta entre saúde emocional, desempenho escolar e vínculos afetivos dentro da escola
08/10/2025 17h41
Por: João Livi Fonte: Instituto Ayrton Senna
Estudo do Instituto Ayrton Senna revela que 8 em cada 10 estudantes do Ensino Médio apresentam sintomas de ansiedade e depressão - dados reforçam a urgência de integrar saúde emocional e aprendizagem. (Foto: Freepik)

Um dos maiores mapeamentos sobre o bem-estar de estudantes da rede pública brasileira revelou um cenário alarmante: oito em cada dez alunos do Ensino Médio apresentam sintomas de ansiedade e depressão. O dado é da Avaliação do Futuro, pesquisa conduzida pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com o CAEd/UFJF e secretarias de Educação de cinco estados (Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná e Ceará).

A análise envolveu 89 mil estudantes e mostra que habilidades socioemocionais - como autogestão, engajamento e resiliência - são determinantes tanto para o aprendizado quanto para o equilíbrio psicológico. Jovens com maior capacidade de planejar, persistir e lidar com frustrações registraram melhores resultados em Língua Portuguesa e Matemática e apresentaram relações interpessoais mais saudáveis.

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Pressão emocional e sensação de esgotamento

Os dados expõem uma realidade preocupante nas escolas públicas:

A diferença de gênero é outro ponto sensível: 25,2% das meninas relataram ter perdido a confiança em si mesmas, contra 17,8% dos meninos, reforçando que elas são as mais vulneráveis emocionalmente durante a adolescência.

Entre o cansaço e a incerteza sobre o futuro

De acordo com Ana Crispim, gerente de pesquisa do eduLab21 e doutora em Psicologia pela University of Kent (Reino Unido), os resultados refletem desgastes emocionais que exigem atenção urgente.

“A saúde mental é multifatorial - envolve as relações consigo mesmo, com os outros e com o contexto de vida. Entre os adolescentes, essas pressões podem vir de desafios próprios da idade, desigualdades sociais, expectativas familiares ou até das comparações nas redes sociais”, explica.

Crispim reforça que a escola tem papel central na prevenção e promoção da saúde mental.

“Além de identificar fatores de risco, é preciso fortalecer fatores protetivos: vínculos, escuta, acolhimento e programas estruturados de desenvolvimento socioemocional”, afirma.

Competências socioemocionais como ferramenta de transformação

O levantamento confirma o que pesquisas anteriores do Instituto Ayrton Senna já indicavam: o desenvolvimento socioemocional é decisivo para o sucesso acadêmico e o bem-estar dos estudantes.

“Estudantes com autogestão elevada têm notas mais altas, persistem diante das dificuldades e constroem relações mais positivas dentro da escola”, destaca o relatório.

Essas competências, segundo Crispim, não são inatas - podem e devem ser trabalhadas intencionalmente pela escola, com apoio de professores e famílias.

Desafios das meninas e o peso das expectativas

Os índices mais altos de sintomas entre meninas seguem um padrão observado globalmente. A adolescência, segundo especialistas, é marcada por uma queda acentuada na resiliência emocional feminina, impactada por fatores como insatisfação corporal, pressões sociais e estéticas e comparações nas redes.

“A adolescência é um período desafiador. O apoio emocional e o fortalecimento da autoconfiança fazem toda a diferença nessa fase”, explica Crispim.

Educação e saúde caminham juntas

Para Gisele Alves, gerente executiva do eduLab21, o estudo deixa claro que a saúde mental é uma pauta educacional urgente.

“Não há solução única. É preciso articular estratégias pedagógicas, psicológicas e sociais, unindo políticas de educação, saúde e assistência social”, reforça.

Ela lembra ainda que os professores também precisam de suporte emocional.

“Promover saúde mental na escola significa criar um ambiente onde aprender e se sentir bem caminhem juntos — tanto para os alunos quanto para os educadores”.

Educação para o futuro

A Avaliação do Futuro consolida o protagonismo brasileiro na pesquisa em educação baseada em evidências. O estudo faz parte de um esforço contínuo do Instituto Ayrton Senna e do CAEd/UFJF para mensurar como emoções, valores e competências sociais impactam a aprendizagem, o convívio e o projeto de vida dos estudantes.

“Mais do que medir notas, precisamos compreender pessoas. O desenvolvimento socioemocional é a base de uma educação que forma cidadãos íntegros, críticos e emocionalmente saudáveis”, conclui o relatório.