Educação Superdotados
Alunos do fundamental do Paraná desenvolvem bateria de batata em projeto para superdotados
Rede estadual atende mais de 12 mil estudantes com altas habilidades e aposta em ciência, arte e inovação
26/08/2025 09h10
Por: João Livi Fonte: Secretaria de Estado da Educação
Estudantes do ensino fundamental em Curitiba testam bateria feita com batata em sala de recursos para altas habilidades da rede estadual. (Foto: Arnaldo Neto/AEN)

Eles ainda estão no ensino fundamental, mas já lidam com a ciência com seriedade e brilho nos olhos. Em uma sala equipada com computadores, tablets, kits de robótica – e até um saco de batatas –, os estudantes Andryw Lucas Trindade Sbrissia, 14 anos, Miguel Kanzler Cassins, 13, e Miguel Ramiro Silva, 12 testam o funcionamento de uma bateria feita com amido. A proposta é ousada: criar uma fonte de energia acessível e sustentável.

O trio integra o grupo de mais de 12 mil alunos com altas habilidades ou superdotação atendidos pela rede estadual do Paraná, em atividades oferecidas no contraturno escolar. Nessas salas de recursos, distribuídas em 15 escolas de referência e conectadas aos 32 Núcleos Regionais de Educação, os estudantes encontram espaço para transformar curiosidade em pesquisa científica, projetos tecnológicos, produções artísticas e novas descobertas pessoais.

Ciência e protagonismo

A experiência com batatas, que será apresentada na Feira Científica do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades (FENAAH/S) em novembro, em Foz do Iguaçu, envolve fundamentos de química, física e matemática. O multímetro mede a tensão gerada pela reação eletroquímica entre cobre e zinco, com o amido como eletrólito. Para os meninos, a prática vem acompanhada de outro desafio: escrever relatórios formais sobre o experimento, unindo ciência e produção textual.

No contraturno, além de aprofundar áreas em que se destacam, os alunos desenvolvem competências complementares, como escrita, sociabilidade e autoestima. “Participar deste grupo mudou muita coisa na minha vida. Agora consigo fazer amizades mais facilmente. Aqui temos gostos parecidos e sempre encontramos assunto para conversar”, conta Miguel Cassins, que também despertou interesse pela Língua Portuguesa.

Reconhecimento e desafios

O Paraná é hoje um dos estados com maior número de estudantes identificados com altas habilidades no Brasil. Um protocolo pedagógico criado pela Seed-PR garante que o atendimento especializado seja iniciado o quanto antes, evitando o atraso comum entre diagnóstico clínico e apoio escolar.

Segundo especialistas, o objetivo não é apenas reforçar o talento evidente, mas também trabalhar o desenvolvimento emocional e social. “A criança com altas habilidades muitas vezes se sente deslocada. A sala de recursos ajuda a fortalecer tanto as competências acadêmicas quanto as habilidades socioemocionais”, avaliam os educadores envolvidos no programa.

Muito além da nota 10

Ainda persiste o imaginário de que superdotados se destacam em todas as áreas, mas os professores ressaltam que as habilidades podem se concentrar em campos específicos, como matemática, ciências ou artes. Entre os exemplos está Gabriela Cecília Gajardoni, 16 anos, que encontrou no cinema a sua vocação e sonha em cursar Direção Cinematográfica na Unespar.

Outro caso de sucesso é o de João Pedro Crevelaro de Oliveira, ex-aluno de Maringá que participou de feiras científicas, olimpíadas e do programa de intercâmbio Ganhando o Mundo. Em 2024, aos 18 anos, conquistou cinco aprovações em Medicina, incluindo três diferentes formas de ingresso na Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Investimento no futuro

Ao todo, em 2025, o Paraná mantém 300 salas de recursos multifuncionais, aceleração de estudos, enriquecimento curricular e acompanhamento individualizado para superdotados. Professores da rede passam por formação contínua para aplicar os protocolos de identificação e apoio, tornando a escola pública paranaense referência no atendimento a esse público.

Os experimentos com batatas ou as primeiras produções de cinema podem parecer apenas exercícios de criatividade. Mas, na prática, representam o investimento em um futuro onde a curiosidade vira conhecimento, o talento vira carreira e o aprendizado vira transformação social.