A discussão sobre a construção de um novo presídio em Marechal Cândido Rondon movimenta autoridades, lideranças e comunidade. Para esclarecer pontos centrais da proposta, o coordenador da 8ª Regional do Departamento de Polícia Penal do Paraná (Depen-PR), Thiago Correia, concedeu entrevista detalhando o projeto e respondendo a críticas e preocupações levantadas pela população.
Segundo Correia, não há dúvidas sobre o porte da unidade: serão 752 vagas, e não 300 ou 400, como chegou a circular em boatos locais. “É importante frisar: estamos falando de uma estrutura prisional moderna, projetada para oferecer condições adequadas de segurança e de tratamento penal. Diferente da cadeia atual, que é antiga, limitada e perigosa".
O coordenador foi enfático ao afirmar que a instalação de um presídio desse porte amplia a presença de todas as forças policiais:
“Não se trata apenas da Polícia Penal. Com uma unidade dessa magnitude, cresce a estrutura da Polícia Civil, da Polícia Militar e de todo o sistema de segurança pública. É impossível implantar um presídio moderno mantendo o mesmo número de policiais de hoje. O efeito é o contrário: aumenta-se a estrutura e fortalece-se a segurança".
Correia citou o caso de Santa Helena, que perdeu estrutura policial após o fechamento da cadeia pública. Em Marechal Rondon, a previsão é o oposto: uma ampliação significativa.
Um dos pilares do novo projeto é a ressocialização dos apenados. Para Correia, o sistema não pode se limitar a manter pessoas encarceradas sem oferecer perspectivas de transformação.
“Pergunto à população: que tipo de vizinho você quer no futuro? Alguém que apenas cumpriu pena em uma estrutura precária, sem oportunidade de mudar, ou alguém que trabalhou, estudou e foi tratado com dignidade dentro do sistema prisional? Nossa meta é devolver à sociedade pessoas diferentes das que chegaram".
O modelo previsto prevê a industrialização dos presídios: presos selecionados, após rigorosa avaliação, terão a oportunidade de trabalhar em indústrias instaladas próximas às unidades. Eles recebem remuneração próxima a um salário mínimo e podem reduzir o tempo de pena.
Em Guaíra, esse modelo já se reflete em números: a prefeitura constrói 36 barracões industriais para abrigar empresas que contratarão mão de obra carcerária. Em Cascavel, a Penitenciária Industrial Marcelo Pinheiro já conta com 403 presos inseridos em atividades laborais em parceria com 20 empresas.
O coordenador também rebateu receios frequentes na comunidade:
Aumento da criminalidade: “Não há registro de cidades onde a criminalidade cresceu por causa de um presídio. O criminoso não quer estar onde há polícia. Ao contrário, com mais aparato policial, a tendência é de maior segurança.”
Migração de famílias de detentos: “Isso é uma falácia. As famílias não se mudam para acompanhar presos. Apenas 20% dos detentos de Marechal Rondon ainda recebem visitas. A experiência mostra que parentes não abandonam casa, trabalho e filhos para morar perto de alguém que cumpre pena".
Correia destacou que o processo precisa ser amplamente debatido, mas que nada será imposto à comunidade:
“O debate é saudável. Estamos à disposição para conversar quantas vezes forem necessárias. O que pedimos é que a população busque informações em fontes confiáveis, não em boatos. O que está em jogo é a modernização da segurança pública e a oportunidade de transformar o sistema prisional".
Como exemplo, citou novamente o caso de Guaíra: “No início, a cidade rejeitava o presídio. Hoje, tanto os parlamentares quanto a população reconhecem os benefícios: aumento do efetivo policial, sensação de segurança e novos empregos com a industrialização da unidade".
Correia finalizou sua fala com uma provocação:
“Quem não gostaria de ter mais polícia perto de casa? Só teme uma estrutura policial quem tem problemas com a Justiça. O que precisamos refletir é se queremos manter um prédio ultrapassado, que não ressocializa ninguém, ou receber uma unidade moderna, que fortalece a segurança e prepara detentos para uma nova vida em sociedade".