A geofísica forense vem se consolidando como uma aliada estratégica em investigações criminais e ambientais, unindo conhecimento científico e perícia técnica para localizar corpos, identificar objetos ocultos e auxiliar na reconstrução de eventos trágicos. Entre as principais ferramentas desse campo está o Radar de Penetração no Solo (GPR, na sigla em inglês), capaz de mapear estruturas enterradas sem necessidade de escavação imediata.
No Brasil, um dos principais especialistas na área é o professor Jorge Luís Porsani, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP), que há anos aplica a tecnologia em investigações sigilosas, estudos arqueológicos e operações de defesa civil.
O GPR ganhou notoriedade internacional em 1994, no caso da chamada Casa dos Horrores, em Londres, quando a polícia utilizou a tecnologia para localizar ossadas ocultas no quintal e até dentro de paredes. No Brasil, Porsani participou de buscas por desaparecidos políticos da ditadura militar, como em Xambioá (TO), onde foram encontradas ossadas com marcas de execução em um cemitério clandestino.
O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), em 2019, representou um desafio técnico. Com alto teor de argila e água, o material dificultava a penetração do sinal do radar. Ainda assim, a equipe da USP foi ao local, mapeou áreas e ajudou a direcionar buscas, indicando regiões onde não valia a pena escavar. “Nem sempre o resultado é encontrar, mas também é valioso saber onde não procurar”, destaca Porsani.
Apesar de ser uma ferramenta poderosa, o professor ressalta que o método só é eficaz quando a varredura é feita na área correta e que sinais no radar podem ter interpretações ambíguas. Por isso, a escavação e a confirmação física do achado são etapas indispensáveis.
A evolução tecnológica deve ampliar a capacidade de atuação da geofísica forense. O uso de drones para transportar antenas de GPR permitirá cobrir grandes áreas com rapidez, inclusive locais de difícil acesso. A inteligência artificial deve auxiliar na análise de dados, mas a interpretação final continuará dependendo do conhecimento técnico do geofísico.
No IAG-USP, os pesquisadores mantêm áreas de treinamento onde são enterrados objetos para simular alvos reais. Em estudos forenses, o corpo humano é representado por um porco, devido à semelhança de massa corporal, possibilitando monitorar o processo de decomposição. Esses ambientes funcionam como laboratórios vivos para formar profissionais capazes de atuar em campo com precisão e responsabilidade.