O Brasil parou novamente nesta quarta-feira (7) com a notícia de que o apresentador Fausto Silva, 75 anos, passou por dois novos transplantes de órgãos de uma só vez: fígado e rim. O procedimento foi realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e soma-se a outros dois transplantes anteriores feitos por Faustão desde 2023, totalizando quatro cirurgias de alta complexidade em menos de um ano.
A rapidez com que o apresentador tem conseguido acesso a novos órgãos causou repercussão nacional e levantou uma questão que paira sobre a cabeça de milhares de brasileiros: como funciona a fila de transplantes e por que alguns pacientes, como Faustão, conseguem ser atendidos com tanta agilidade?
Desde agosto de 2023, Faustão foi submetido a:
Transplante de coração (2023)
Transplante de rim (fevereiro de 2024)
Retransplante de rim e transplante de fígado (agora, em agosto de 2025)
Segundo boletim médico, os dois órgãos mais recentes vieram de um único doador, com compatibilidade aprovada pela Central de Transplantes do Estado de São Paulo. O apresentador está internado desde maio, por conta de uma infecção com sepse, o que agravou seu estado e colocou-o em situação de prioridade.
Apesar dos avanços, o país enfrenta uma fila de espera brutal. De acordo com o Ministério da Saúde, 46,7 mil brasileiros aguardam na fila por um transplante atualmente, sendo:
43.319 para rim
2.310 para fígado
445 para coração
O estado de São Paulo, onde Faustão reside, concentra 22,4 mil desses pacientes. E embora o Sistema Nacional de Transplantes do SUS seja o segundo maior do mundo, ainda enfrenta desigualdades no acesso.
A lista de espera para transplantes no Brasil é única, válida tanto para pacientes do SUS quanto da rede privada. Mas ela não é exclusivamente cronológica. A posição na fila depende de uma série de critérios técnicos, como:
Gravidade do quadro clínico
Tipo sanguíneo
Compatibilidade genética
Porte físico
Tempo de isquemia do órgão (máximo de 4 horas fora do corpo)
Distância geográfica entre doador e receptor
Ou seja, mesmo que uma pessoa esteja há mais tempo na fila, ela pode ser ultrapassada por outro paciente em situação mais grave ou com melhor compatibilidade.
No caso de Faustão, a combinação entre quadro clínico gravíssimo, compatibilidade perfeita e localização em São Paulo, onde há alta taxa de doações e logística eficiente, acelerou sua entrada na prioridade da fila.
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), pacientes com falência aguda de órgãos, infecções severas ou rejeição de transplantes anteriores têm prioridade absoluta. E esse foi o caso de Faustão.
Além disso, São Paulo lidera o número de transplantes no país, com 9.537 realizados apenas em 2024. A estrutura hospitalar de ponta, acesso rápido a exames e presença em um grande centro urbano também colaboram para o desfecho veloz no caso do apresentador.
Especialistas apontam que, para melhorar o acesso à doação de órgãos, o Brasil precisa:
Ampliar campanhas de conscientização
Reduzir o tempo de logística
Investir em infraestrutura hospitalar fora dos grandes centros
Aumentar a taxa de autorização das famílias doadoras
O próprio Ministério da Saúde destinou R$ 1,47 bilhão à área de transplantes em 2024 - um aumento de 28% em relação ao ano anterior.