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Mais de 60% dos trabalhadores desligados que se tornaram MEIs em 2022 o fizeram por necessidade, revela IBGE
No setor de construção, por exemplo, 76,4% dos MEIs atuavam anteriormente como pedreiros
22/08/2024 09h13
Por: João Livi

Em 2022, o Brasil registrou 14,6 milhões de microempreendedores individuais (MEIs), um crescimento significativo que reflete a realidade de um mercado de trabalho em transformação. No entanto, um levantamento recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, para a maioria desses novos empreendedores, o microempreendedorismo não foi uma escolha planejada, mas uma necessidade imposta pelas circunstâncias.

De acordo com o estudo, 1,7 milhão dos novos MEIs em 2022 haviam sido desligados de seus empregos formais, seja por demissão, término de contrato ou outros motivos alheios à sua vontade. Desses, 1 milhão, ou 60,7%, foram demitidos, evidenciando que o empreendedorismo por necessidade se tornou uma alternativa para muitos brasileiros diante da falta de opções no mercado formal de trabalho.

Thiego Gonçalves Ferreira, analista da pesquisa, destaca que o empreendedorismo por necessidade difere do empreendedorismo por oportunidade, no qual as pessoas planejam e preparam seus negócios com antecedência. "A maioria dos MEIs se enquadra no perfil de empreendedores por necessidade, uma vez que a decisão de se tornarem autônomos não partiu de uma escolha, mas de uma imposição do mercado," explica.

 

Perfil dos novos MEIs

O levantamento do IBGE também traça um perfil detalhado dos novos MEIs, revelando que muitos optaram por continuar em atividades similares às que exerciam como empregados. No setor de construção, por exemplo, 76,4% dos MEIs atuavam anteriormente como pedreiros. No transporte, armazenagem e correios, 61,6% eram caminhoneiros, e no segmento de alojamento e alimentação, 40,9% eram cozinheiros antes de se formalizarem como MEIs.

Essa continuidade de atuação sugere que a experiência prévia é um fator determinante para o sucesso do empreendedorismo. "A experiência acumulada nesses setores pode ser um diferencial para que esses empreendedores tenham sucesso na nova jornada," avalia Thiego Ferreira.

 

Crescimento e sustentabilidade

Entre 2020 e 2022, 7 milhões de trabalhadores aderiram ao regime de MEI, o que representa quase metade (48,6%) dos microempreendedores existentes no Brasil. No entanto, o crescimento desse segmento não se traduziu em uma ampliação significativa da geração de empregos: menos de 1% dos MEIs empregam outra pessoa. Além disso, 38% dos microempreendimentos funcionam no mesmo endereço de residência do empreendedor, o que evidencia as limitações estruturais enfrentadas por muitos desses trabalhadores.

Outro dado relevante é que 28,4% dos MEIs registrados em 2022 estavam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) do governo, sendo que metade deles recebia o Auxílio Brasil, programa que voltou a se chamar Bolsa Família em 2023. Este dado reforça a relação entre o empreendedorismo por necessidade e as condições socioeconômicas adversas.

 

Setor de construção se destaca

São Paulo é o estado com o maior número de MEIs, somando cerca de 4 milhões de microempreendedores, o que corresponde a 27% do total nacional. Em termos de setor, a construção civil se destaca, com quase um terço (31,4%) dos trabalhadores dessa área atuando como microempreendedores individuais.

 

Cautela

Por se tratar de uma pesquisa experimental, com série histórica iniciada em 2020, o IBGE recomenda cautela na interpretação dos resultados. No entanto, o estudo já oferece uma visão abrangente das condições que têm levado milhões de brasileiros a optar pelo MEI, muitas vezes como uma última alternativa diante da crise no mercado formal de trabalho.