Uma pesquisa inovadora apoiada pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) propõe uma combinação estratégica entre agricultura sustentável, geração de energia limpa e conservação de alimentos sem o uso de aditivos sintéticos. A proposta alia o cultivo de hortelã-pimenta híbrida a sistemas de energia solar, resultando em soluções que podem transformar a cadeia produtiva da agroindústria paranaense — especialmente para pequenos produtores.

O projeto, desenvolvido pelo colaborador do Tecpar, Geanesson Alberto de Oliveira Santos, integra sua tese de doutorado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). A investigação demonstrou a viabilidade de aplicar modelos bioeconômicos no cultivo de plantas aromáticas e medicinais, além de apresentar alternativas naturais para conservação de frutas como o morango, conhecido por sua alta perecibilidade.

“O cultivo agrivoltaico e a iluminação LED em ambiente de laboratório mostram-se promissores, pois podem influenciar características bioquímicas das plantas. Esses resultados são fundamentais para o desenvolvimento de insumos de aditivos naturais voltados às indústrias de alimento, química e farmacêuticas”, afirma o pesquisador.

Agricultura e energia em harmonia
Um dos destaques do estudo é a aplicação do sistema agrivoltaico, que combina o cultivo agrícola com a produção de energia fotovoltaica. No experimento, módulos solares foram instalados sobre as plantas para gerar eletricidade enquanto permitiam a passagem controlada de luz solar. A energia gerada foi utilizada no cultivo com iluminação LED, em uma estrutura adaptada na garagem solar do câmpus CIC do Tecpar.

Foram testadas três condições de cultivo da hortelã-pimenta híbrida (Mentha x piperita L.): uma estufa tradicional na cidade de Almirante Tamandaré (Região Metropolitana de Curitiba), um sistema agrivoltaico no próprio Tecpar e um ambiente laboratorial com LEDs nas cores azul, vermelha e branca fria.

O resultado mais expressivo foi o rendimento das folhas secas provenientes do cultivo sob LEDs e sistema agrivoltaico, com índice de até 18% a mais que o cultivo tradicional. Isso representa maior aproveitamento da planta e valor agregado na produção de extratos, com vantagens logísticas e de conservação.

Preservando alimentos naturalmente
Além do cultivo eficiente, o estudo explorou formas sustentáveis de conservação de frutas. A partir do pó granulado da hortelã colhida, Santos produziu extratos naturais usando uma solução de etanol vegetal e água — alternativa menos agressiva ao meio ambiente do que os solventes petroquímicos. Os extratos foram aplicados em morangos, que passaram por testes de preservação durante 12 dias.

A aplicação resultou em um aumento de três a seis dias na vida útil da fruta, a depender da temperatura de armazenamento. Além de inibir a ação de fungos e larvas, os revestimentos naturais preservaram os níveis de flavonoides e antioxidantes dos morangos, contribuindo para a saúde dos consumidores e a redução de perdas na cadeia de distribuição.

“Estes resultados representam um avanço na conservação de frutas altamente perecíveis”, aponta Santos. “Com isso, o Tecpar se posiciona na vanguarda de um campo emergente, investigando o impacto da variação climática na produção concomitante de energia e de extratos de metabólitos bioativos, abrindo novas possibilidades para otimizar o manejo agrícola industrial”.

Inovação que nasce no Paraná
O diretor-presidente do Tecpar, Celso Kloss, reforça que a pesquisa exemplifica o compromisso da instituição com o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis em parceria com universidades e setor produtivo.

“O Tecpar, como empresa pública do Governo do Paraná, tem trabalhado de modo articulado com a academia e o setor privado para fortalecer a inovação. Um exemplo é essa solução que combina ciência, tecnologia e sustentabilidade para fortalecer o setor agroindustrial, beneficiando desde pequenos agricultores até grandes centros de distribuição de alimentos”, destaca Kloss.

As atividades experimentais foram realizadas nos laboratórios do Tecpar e em ambientes de pesquisa da UFPR e da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Parte da produção científica foi publicada na revista Brazilian Archives of Biology and Technology (BABT), editada pelo próprio Tecpar. Outro artigo, focado no prolongamento da vida útil de morangos, foi recentemente aceito pela revista internacional Waste and Biomass Valorization.

ODS

Mais do que avanços técnicos, a pesquisa dialoga com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ao promover práticas agrícolas menos agressivas, garantir segurança alimentar e incentivar a geração de energia limpa. O estudo aponta caminhos para uma agroindústria mais resiliente, ecológica e economicamente viável.

A combinação de ciência, tecnologia e compromisso ambiental coloca o Paraná em posição de destaque na corrida global por soluções sustentáveis e prepara o estado para enfrentar os desafios da agricultura do futuro.