Educação Sem telas
Jogos no lugar das telas: escolas do Paraná apostam no analógico para engajar alunos
Proibição do uso recreativo de celulares impulsiona projetos com jogos de tabuleiro que promovem interação, raciocínio e inclusão
07/05/2025 13h19
Por: João Livi
Saem telas, entram tabuleiros: restrição a celulares nas escolas do Paraná revela novos interesses. (Foto: Arquivo pessoal)

Desde que o uso recreativo de celulares foi restrito nas escolas da rede pública do Paraná no início do ano letivo de 2025, uma nova dinâmica tem tomado conta dos intervalos e do cotidiano pedagógico: os jogos analógicos. Longe das telas, estudantes redescobrem o prazer do convívio e do raciocínio lógico, e instituições como o Colégio Estadual José de Anchieta, em Londrina, estão aproveitando o momento para inovar com iniciativas que unem diversão, aprendizagem e desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

A mudança, que inicialmente poderia parecer um desafio para alunos acostumados ao celular como companhia constante, tem revelado novos interesses e surpreendido positivamente. É o caso do projeto “Aprender Jogando”, idealizado pelo professor de História e Projeto de Vida Henrique Bueno Bresciani. Com apoio da direção, ele implantou uma disciplina eletiva voltada aos jogos analógicos, além de estimular a criação de um clube de protagonismo focado nessa prática. “Os jogos têm proporcionado uma integração genuína entre os estudantes, inclusive entre os mais novos e os veteranos do Ensino Médio”, afirma o professor.

O colégio reservou espaço na biblioteca para as atividades do clube e já planeja montar uma ludoteca, com jogos variados à disposição dos alunos. A proposta tem ganhado força especialmente entre os estudantes da Educação em Tempo Integral. Entre os jogos preferidos estão os de dedução social, como o clássico “detetive”, e os de estratégia e raciocínio, que dispensam o fator sorte e exigem lógica, criatividade e cooperação. Há até planos para produção de jogos próprios que abordem conteúdos curriculares de disciplinas como Matemática, Português e História, com potencial para participação em feiras científicas.

Para Mariah Inês Lelis, 15 anos, da 1ª série do Ensino Médio, o clube representa o melhor momento do dia. “É onde relaxo, aprendo mais e ainda conheço colegas de outras turmas. Já pensamos até em marcar encontros aos sábados para jogar versões mais longas que não cabem no intervalo”, conta. Pedro Demarque Vendrame, 14, destaca o ganho na convivência. “Agora, com os celulares fora, interagimos mais. Queremos que outras escolas conheçam o clube e se inspirem”.

A experiência se estende para além de Londrina. Em Cambé, no Colégio Cívico-Militar Professora Helena Kolody, os intervalos passaram a ser ocupados com jogos de futebol, pingue-pongue e rodas de conversa, demonstrando que a ausência das telas também reativa formas simples, mas eficazes, de convivência e bem-estar.

Segundo a Secretaria de Estado da Educação, a recomendação é que os celulares sejam usados apenas com finalidade pedagógica, quando autorizados em sala. “É um processo de mudança de hábito que precisa do apoio das famílias. Essa interação nos intervalos é essencial para o equilíbrio emocional dos estudantes”, afirma o secretário Roni Miranda.

Mesmo entre os que relutavam no início, os efeitos já são percebidos. “No começo foi difícil deixar o celular. Mas agora presto mais atenção nas aulas e me aproximei dos colegas”, admite André da Costa, 16 anos, da 3ª série do Ensino Médio.

A transição para um cotidiano mais analógico não significa um retrocesso, mas uma adaptação que prioriza o contato humano, o pensamento crítico e o equilíbrio emocional. Em tempos de excesso de telas, os dados, cartas e tabuleiros voltam a ocupar espaço – e, pelo que se vê nas escolas do Paraná, com muita aceitação.