Brasil União Progressista
Federação União-PP é oficializada com discurso de ruptura e aceno à direita
Aliança entre União Brasil e Progressistas se apresenta como principal força partidária do país e sinaliza distanciamento do governo Lula
30/04/2025 12h02
Por: João Livi
Momento da formalização da Federação União Progressita.

A formalização da federação entre o União Brasil e o Progressistas (PP), realizada nesta terça-feira (30) no Congresso Nacional, redefiniu parte do cenário político brasileiro. Com 109 deputados federais, 14 senadores, seis governadores e mais de 1.300 prefeitos, a nova sigla nasce como a maior bancada partidária do país e faz um movimento claro de afastamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Embora representantes do governo estivessem presentes — os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes), ambos filiados aos partidos integrantes da federação —, nenhuma liderança petista compareceu à cerimônia. Em contraste, o evento contou com presença marcante de nomes ligados ao bolsonarismo, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, sinalizando a direção ideológica adotada pela nova aliança.

O manifesto da federação, lido no evento, defendeu uma agenda liberal na economia, crítica à intervenção estatal e ao modelo atual praticado pelo governo federal. A única política econômica elogiada no documento foi o Plano Real, implementado na década de 1990, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Entre as propostas, destaca-se a defesa de uma reforma administrativa mais ampla do que a atualmente proposta pelo Executivo.

O vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, foi direto ao abordar o cenário eleitoral:

Bolsonaro é um personagem político com tamanho e densidade eleitoral inegável no campo da direita. Ninguém pode querer construir um projeto de enfrentamento ao PT sério, competitivo e vitorioso sem considerar isso”.

Já o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), apontou 2026 como horizonte prioritário da federação. “Hoje, nessa federação dos dois grandes partidos, transferimos a todos nós a responsabilidade sobre nossos ombros. (Temos que) saber ganhar o processo eleitoral de 2026”, declarou, destacando o projeto de longo prazo da nova força política.

Apesar do tom de união, o evento também evidenciou tensões internas. A decisão de uma presidência compartilhada entre Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União Brasil) incomodou Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, que pleiteava o posto. Os dois dirigentes, ambos próximos ao ex-presidente Bolsonaro, articulam a construção de uma candidatura unificada da direita para a sucessão presidencial.

Nos bastidores, o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ganhou força como possível cabeça de chapa. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi enfático:

Se ele for candidato, a centro-direita não lança nenhum outro candidato. (Ronaldo) Caiado não sai, Ratinho (Jr.) não sai, (Romeu) Zema não sai, Tereza Cristina não sai”.

A cerimônia também contou com discursos conciliatórios. Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado, defendeu um caminho de equilíbrio e diálogo:

O caminho do equilíbrio, da ponderação, do diálogo, do entendimento, é o que faz um país do tamanho do Brasil seguir em frente”.

Desafios estaduais já se colocam no caminho da nova federação. Em 18 das 27 unidades da federação, já há consenso sobre quem comanda os diretórios — nove para cada partido. Porém, estados como Pernambuco, Bahia e Amazonas enfrentam impasses locais que podem minar a estabilidade da federação. Em Pernambuco, o deputado Mendonça Filho (União) resiste à liderança do PP. Na Bahia, há conflito entre parlamentares do PP alinhados ao governo petista e o União, de oposição. No Amazonas, o deputado Pauderney Avelino (União) não chegou a um acordo com o governador Wilson Lima (União).

Além das disputas regionais, há indefinição sobre candidaturas estaduais em 2026 em pelo menos 14 estados. No Paraná, por exemplo, o senador Sergio Moro (União) é pretenso candidato ao governo estadual, mas enfrenta resistência do PP, aliado do atual governador Ratinho Júnior (PSD).

A nova federação também assume a responsabilidade sobre um dos maiores fundos partidários do país, estimado em R$ 954 milhões, o que deve representar um peso considerável na disputa eleitoral vindoura.