Cláudia Prócula, nome aceito pela tradição cristã desde a igreja primitiva, foi esposa de Pilatos. Tentou interferir no julgamento de Jesus diante da turba ensandecida que pedia sua crucificação. O episódio aparece no Evangelho de Mateus e em outro escrito de interesse histórico aqui em destaque.
O sonho de Cláudia integra um belo texto literário conhecido como o “Evangelho de Nicodemos” ou “Atos de Pilatos”. Acredita-se que versões do texto já circulavam nas comunidades cristãs desde o século II.
A narrativa de Nicodemos se inicia com o julgamento de Jesus e prossegue até sua ascensão. Além de Jesus, Pilatos e a liderança religiosa da época, aparecem com destaque dois personagens também mencionados nos evangelhos canônicos: Nicodemos e José de Arimateia.
Nicodemos era da liderança religiosa, e por causa de sua aproximação com Jesus, foi acusado de cumplicidade pelos seus pares. José de Arimateia cedeu seu túmulo para o sepultamento de Jesus, e foi perseguido por aqueles que queriam ver o nome do “Profeta de Nazaré” proscrito.
A narrativa de Nicodemos pode ser entendida como um romance histórico que contêm passagens que não constam nos textos canônicos, mas que também não os contradizem. É o caso, por exemplo, de testemunhos de pessoas que haviam sido curadas por intervenção de Jesus, e que estavam presentes durante seu julgamento. Uma das acusações contra Jesus, era de que ele havia realizado curas nos sábados.
Segundo o relato de Nicodemos, Pilatos teria se utilizado de diversos argumentos sem sucesso para livrar Jesus da cruz, entre os quais, a menção do sonho de sua esposa, apontado também na versão canônica.
Durante o julgamento, Pilatos teria recebido um carta de sua esposa com o seguinte teor: “Não te envolvas com este justo, pois durante a noite sofri muito (em sonhos) por sua causa”. Então Pilatos teria chamado os acusadores aos quais dissera: “Sabeis que minha mulher é piedosa e que tende mais para o bem do que para segui-los em vossos costumes judeus?” Ao que concordaram.
Quando Pilatos lhes expusera o conteúdo da carta os acusadores responderam com escárnio: “Não te dissemos que (Jesus) é um mágico? Sem dúvida enviou um sono fantástico a tua mulher”.
Esgotados os argumentos para livrar Jesus, os acusadores acabaram liberando o caminho para o cumprimento de profecias sobre a missão de Cristo: “Foi esmagado por causa de nossas iniquidades; [...] e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías, 53.5).