O retrato do ensino médico superior no Brasil, revelado pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2023, mostra que a excelência ainda é para poucos. Dos 309 cursos de medicina avaliados, somente seis atingiram nota 5, o conceito máximo da avaliação aplicada pelo Ministério da Educação. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (11) e destacam que a maioria dos cursos ainda apresenta desempenho intermediário.
Entre os cursos com nota máxima, cinco são de instituições privadas e apenas um pertence à rede pública: a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), em São Paulo. Os outros cinco cursos mais bem avaliados são:
Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) – SP
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) – SP
Centro Universitário Governador Ozanam Coelho (Unifagoc) – MG
Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (Ficsae) – SP
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium (UniSalesiano) – SP
De acordo com os dados, 119 cursos de medicina receberam nota 4, enquanto 156 ficaram com conceito 3. Outros 22 cursos tiveram desempenho considerado insatisfatório (nota 2) e dois cursos obtiveram nota 1, o pior desempenho possível. Quatro cursos não foram avaliados por falta de concluintes suficientes.
A nota final do Enade leva em conta uma série de fatores: desempenho dos estudantes, infraestrutura das instituições, qualidade do corpo docente, materiais didáticos e respostas a um questionário socioeconômico aplicado aos alunos.
O Enade 2023 avaliou 9.812 cursos superiores em todo o Brasil, abrangendo áreas como saúde, engenharias, agronomia e tecnologia. Na média geral, os cursos de medicina obtiveram nota 65, seguidos por fisioterapia, com 53,67.
Outras áreas com bom desempenho incluem:
Arquitetura e urbanismo – nota média de 56,94
Engenharia ambiental – 55,22
Segurança do trabalho – 52,62
A avaliação incluiu tanto bacharelados quanto cursos tecnológicos, em áreas como engenharia civil, engenharia de alimentos, engenharia elétrica, medicina veterinária, enfermagem, nutrição, radiologia e gestão hospitalar.
O levantamento do MEC também mostrou uma diferença significativa entre o desempenho de cursos presenciais e a distância. Enquanto 492 cursos presenciais atingiram a nota máxima (cerca de 5% do total), apenas seis cursos a distância obtiveram o mesmo desempenho — o que representa menos de 1% dos avaliados nesse formato.
A discrepância reacende o debate sobre a eficácia do ensino remoto em áreas que exigem grande carga prática, como saúde e engenharias. O MEC reforça a importância de critérios rígidos de avaliação e de fiscalização constante para garantir a qualidade dos cursos oferecidos no país.
O Enade, mais do que um indicador de desempenho, funciona como termômetro da qualidade do ensino superior brasileiro. No caso da medicina, a avaliação de 2023 revela avanços pontuais, mas também escancara a necessidade de fortalecer a formação médica em todo o território nacional.
Com poucos cursos atingindo o topo e um número considerável operando em patamares médios ou baixos, os dados acendem um alerta. A qualidade da formação médica está diretamente ligada à saúde pública e à segurança dos pacientes. E é nesse contexto que os números ganham ainda mais peso.