Empreender Da Amazônia
Do Norte ao Sul: a trajetória de uma empreendedora que levou a Amazônia para Foz do Iguaçu
Do Norte ao Sul: a trajetória de uma empreendedora que levou a Amazônia para Foz do Iguaçu Com coragem e visão de mercado, Selma Cavalcante transformou desafios em oportunidades e se tornou referência em gastronomia regional
07/03/2025 08h51
Por: João Livi Fonte: Sebrae/PR
Selma Cavalcante veio da região norte do Brasil e empreendeu, em Foz do Iguaçu. (Créditos: Arquivo Pessoal)

No Brasil, empreender é um caminho que exige resiliência, criatividade e, acima de tudo, coragem. Para Selma Cavalcante, 49 anos, essa jornada começou com um grande desafio: recomeçar em uma nova cidade, longe de suas raízes, sem emprego e sem perspectivas imediatas. Acreana de Rio Branco e professora por formação, Selma deixou o Norte do país para acompanhar os filhos que decidiram estudar medicina no Paraguai. A mudança para Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, trouxe dificuldades, mas também abriu portas para uma nova carreira: o empreendedorismo gastronômico.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE, 32,7% das mulheres no Paraná são empreendedoras, e Selma agora faz parte desse grupo. Sua história é um exemplo de superação e inovação, culminando na criação do primeiro restaurante temático amazônico de Foz do Iguaçu: o Seldeestrelas Comidas Nortistas.

Da venda de cappuccino ao restaurante temático

A trajetória de Selma como empreendedora começou em 2021, quando, sem conseguir emprego na área da educação devido à pandemia, decidiu vender cápsulas de cappuccino caseiro pela internet.

"Chegamos em Foz 40 dias antes da pandemia, ou seja, ninguém me empregaria como professora. Então, eu, meu marido e meus filhos montamos uma loja no Instagram para vender cappuccino. Foi assim que conheci o Sebrae e, ao buscar informações sobre a tabela nutricional dos produtos, acabei vendendo para um encontro de empresários. Aí percebi que estava no caminho certo", relembra Selma.

A transição do online para o presencial ocorreu de forma natural. A empreendedora passou a vender os produtos de porta em porta, mas encontrou nas feiras livres uma oportunidade de crescimento. Com poucos recursos, improvisou uma estrutura simples para expor seus produtos e, aos poucos, conquistou clientes fiéis.

Hoje, proprietária de restaurante em Foz do Iguaçu,
Selma foi feirante e participou do Empretec.

A virada de chave: da feira ao restaurante

Em meio aos desafios, Selma quase desistiu quando seu marido, que a auxiliava nas feiras, precisou se afastar. No entanto, uma postagem nas redes sociais mudou tudo.

"Falei sobre a minha rotina e sobre a culinária nortista, e a repercussão foi enorme. Muitas pessoas se interessaram pelos pratos típicos, mas eu não encontrava ingredientes como tacacá em Foz do Iguaçu. Busquei fornecedores no Pará, e foi assim que comecei a vislumbrar um novo caminho", conta a empresária.

A busca por capacitação se tornou uma constante. Selma participou de cursos e eventos, até que, em 2023, recebeu o convite para ingressar no Empretec, um programa do Sebrae voltado ao desenvolvimento de características empreendedoras. Durante a imersão, nasceu a ideia do restaurante temático.

"Era um sonho distante, mas precisei entender como torná-lo realidade. Hoje, o Seldeestrelas Comidas Nortistas é um sonho concretizado", afirma.

Um pedacinho da Amazônia em Foz do Iguaçu

De feirante a empresária, Selma também passou por outra transição importante: de Microempreendedora Individual (MEI) para Microempresa (ME). Essa mudança foi impulsionada pelo crescimento do negócio e pela necessidade de oferecer uma experiência diferenciada aos clientes.

"Percebi que o público do Sul do país gosta de ambientes fechados, climatizados, onde possam levar a família e tirar fotos. Então, criamos um espaço que remete à floresta, com som de pássaros, cheiro de mata e elementos que resgatam as lendas amazônicas. Mostramos o fruto do açaí, o ouriço da castanha e falamos sobre sustentabilidade e desperdício zero", explica Selma.

O restaurante foi inaugurado em 28 de agosto de 2024 e hoje emprega sete pessoas, entre familiares e funcionários contratados. A ambientação e a autenticidade dos pratos conquistaram o público, consolidando a proposta inovadora do negócio.

O empreendedorismo feminino e seu impacto

Os dados do IBGE reforçam a importância do empreendedorismo feminino. No Paraná, as mulheres representam 50,9% da população, sendo que 43,4% delas estão no mercado de trabalho. Entre as empreendedoras, 51,2% são chefes de família, e cerca de 289 mil atuam no setor de Serviços.

Amanda Fagundes, consultora do Sebrae/PR, acompanhou de perto a trajetória de Selma e destaca a relevância do apoio ao empreendedorismo feminino.

"As empreendedoras são as que mais contratam mulheres e, geralmente, enfrentam o desafio da dupla ou tripla jornada: filhos, casa e trabalho. Elas têm um olhar apurado para a gestão e sabem onde precisam melhorar. Selma é um exemplo disso. Desde 2021, participa de capacitações, aproveitou subsídios do Sebraetec, estruturou sua gestão e planejou cada passo até chegar onde está", ressalta Amanda.

Um futuro promissor

Com um negócio sólido e um conceito inovador, Selma Cavalcante segue escrevendo sua história no empreendedorismo. "Sou a professora que virou feirante, vendeu nas ruas, conquistou clientes, esteve entre grandes empresários, mesmo sendo MEI, e hoje tem o primeiro restaurante temático amazônico em Foz do Iguaçu", comemora.