A trajetória de Márcia Regina Espinosa, chamada carinhosamente de "profe-vovó" pelas crianças do Centro Municipal de Educação Infantil Zilda Arns, é um reflexo de uma transformação maior no mercado de trabalho: o resgate e a valorização de profissionais com mais de 50 anos. Aos 62 anos, Márcia encontrou no estágio uma nova chance de exercer sua paixão pela educação, demonstrando que nunca é tarde para recomeçar.
Márcia voltou aos estudos aos 58 anos e, hoje, estagiando enquanto cursa pedagogia, planeja novos passos, incluindo uma pós-graduação e concursos públicos. "Eu comecei a estudar sem saber mexer no computador, mas hoje faço tudo online. Essa experiência não só me atualizou como também abriu novos horizontes", relata.
Essa reinserção no mercado de trabalho, impulsionada por histórias como a de Márcia, tem sido incentivada por iniciativas públicas e privadas no Paraná.
A Secretaria de Estado do Trabalho, Qualificação e Renda (SETR) tem sido peça-chave nesse movimento, promovendo ações como o mutirão de empregos em Curitiba. Em 2024, cerca de 12.440 vagas foram intermediadas para pessoas acima de 50 anos, um aumento significativo em relação a 2023. Segundo o secretário Mauro Moraes, o objetivo para 2025 é reverter o saldo negativo de empregos para idosos, garantindo a igualdade na disputa por vagas.
"A qualificação é essencial para que eles possam competir com os jovens, inclusive em áreas emergentes como tecnologia", afirma Moraes. Entre os projetos estão o Bora Paraná, o Qualifica Paraná e as Carretas do Conhecimento, que oferecem capacitação em diversas cidades.
Além disso, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE/PR) tem destacado o aumento da procura de estágios por pessoas com mais de 60 anos. Em 2024, foram ofertadas 8.738 vagas, e o objetivo para 2025 é crescer 10%. "Empresas buscam pessoas mais velhas pela experiência e comprometimento", explica Ilsis Cristine da Silva, supervisora operacional do CIEE/PR.
O envelhecimento da população paranaense é uma realidade cada vez mais evidente. Dados do Ipardes e do IBGE indicam que, até 2027, o número de pessoas com mais de 60 anos será superior ao de jovens com menos de 15 anos. Em 2046, projeta-se que haverá o dobro de idosos em relação aos jovens.
Esse cenário desafia empresas a repensarem estratégias de contratação, apostando no potencial de uma força de trabalho experiente e qualificada. "Estamos vendo um movimento de adaptação do mercado, que começa a valorizar o conhecimento acumulado de profissionais mais velhos", aponta Moraes.
Profissionais acima de 50 anos trazem uma combinação única ao mercado: vivência, resiliência e disposição para se reinventar. Para Márcia Regina Espinosa, a educação foi o caminho para essa reinvenção. "As crianças me chamavam de profe-vovó, e isso era um incentivo para continuar. O trabalho é puxado, mas a experiência e o amor pelo que faço me mantêm ativa", diz.
Enquanto isso, programas como os da SETR e do CIEE/PR pavimentam o caminho para que mais histórias como a de Márcia se tornem realidade. No Paraná, a força da maturidade tem provado que a idade é apenas um número diante da vontade de recomeçar.
Por que isso importa?
Com o envelhecimento da população e as transformações no mercado de trabalho, incluir pessoas com mais de 50 anos não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia de desenvolvimento econômico e humano.