Emprego 6x1
O fim da jornada 6×1: uma disputa entre qualidade de vida e desafios econômicos
Proposta para alterar a jornada de trabalho divide opiniões entre trabalhadores e empregadores
19/11/2024 08h29
Por: João Livi Fonte: Agência Brasil
© Letycia Bond/Agência Brasil

A recente proposta de extinção da jornada de trabalho 6×1, defendida pelo Movimento Vida Além do Trabalho, gerou um acirrado debate entre as entidades representativas dos trabalhadores e os sindicatos patronais. Enquanto os primeiros apontam a necessidade de melhorias na qualidade de vida e na saúde mental dos trabalhadores, as entidades empresariais alertam para os potenciais efeitos econômicos negativos, como a redução de postos de trabalho e o aumento de custos.

Na última semana, o tema ganhou mais destaque com a formalização de uma proposta de emenda constitucional (PEC), apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que visa alterar as normas trabalhistas atuais. A Agência Brasil consultou diversas entidades de ambos os lados para entender os principais argumentos sobre a questão.

A defesa da mudança: qualidade de vida em primeiro lugar

CUT (Central Única dos Trabalhadores) – A CUT reafirma seu compromisso histórico com a luta por melhores condições de trabalho, destacando que a jornada 6×1 tem impactos negativos na vida dos trabalhadores. A central defende a redução da carga horária sem prejuízo de salários, como uma medida que visa promover a qualidade de vida e contribuir para o desenvolvimento do país por meio da distribuição de renda e políticas públicas de proteção social. Segundo a CUT, a jornada reduzida é um passo importante para a valorização do salário mínimo e para a melhoria das condições de trabalho, especialmente em tempos de crescente necessidade de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

O fim da jornada 6×1: um debate polarizado

FEM-CUT/SP (Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da CUT-SP) – A Federação aponta diversos exemplos de empresas que adotaram a redução da jornada sem prejudicar suas operações. Acordos de redução para 40 horas semanais e o fim da jornada 6×1 já são uma realidade em algumas regiões do estado de São Paulo, sem impactos negativos para a indústria. A FEM-CUT/SP considera que esses exemplos demonstram que a mudança é viável e benéfica tanto para os trabalhadores quanto para as empresas.

UGT (União Geral dos Trabalhadores) – A UGT alerta para os impactos negativos da jornada 6×1 na saúde física e mental dos trabalhadores. A desconexão das atividades familiares e sociais, além da sobrecarga no trabalho, contribui para o aumento do estresse e problemas psicológicos. Para a UGT, a luta pelo fim dessa jornada é uma prioridade, pois acredita que o bem-estar dos trabalhadores reflete diretamente em sua produtividade e na qualidade de vida da sociedade como um todo.

As críticas à proposta: desafios econômicos e impacto nas pequenas empresas

Fecomércio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) – A Fecomércio-SP destaca que, na prática, a maioria das empresas no Brasil são de pequeno e médio porte, e essas enfrentam dificuldades para implementar a jornada reduzida sem afetar a sustentabilidade financeira. Segundo a entidade, a medida poderia significar a perda de postos de trabalho, pois muitas empresas não teriam como arcar com o custo de manter os salários sem uma adaptação na carga horária.

Propostas de mudança: argumentos a favor e contra

FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) – A FIESP reforça que a Constituição Brasileira já estabelece uma jornada máxima de 44 horas semanais, mas que a negociação coletiva é o melhor caminho para reduzir a carga horária, respeitando as especificidades de cada setor. A FIESP defende que a negociação direta entre empregador e empregado é o meio mais eficaz de atender às demandas de ambos, preservando a viabilidade econômica das empresas e garantindo os direitos dos trabalhadores.

Os desafios das pequenas empresas frente à nova proposta

Associação Comercial de São Paulo – Para a Associação Comercial, a proposta de redução da jornada de trabalho sem a devida adaptação econômica seria um retrocesso. A entidade argumenta que a medida poderia elevar os custos operacionais das empresas, repassando os aumentos para os preços dos produtos e serviços. Isso, segundo a associação, impactaria diretamente o consumidor, que acabaria arcando com a conta.

O futuro das negociações trabalhistas

O debate sobre a extinção da jornada 6×1 é um reflexo das tensões entre a busca por melhores condições de trabalho e os desafios econômicos enfrentados pelas empresas. Enquanto um lado defende a necessidade de equilibrar a vida profissional com a pessoal, o outro se preocupa com os efeitos que a proposta pode ter sobre a geração de empregos e a sustentabilidade econômica das empresas, especialmente as de menor porte.