Saúde Vacina HPV
Vacina HPV: proteção eficaz contra cânceres associados ao papilomavírus humano
O HPV é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns e perigosas, mas a vacinação tem demonstrado ser uma solução eficaz na prevenção de doenças graves e na redução dos casos de câncer no mundo inteiro
13/11/2024 08h45
Por: João Livi
Flávia Fenner é enfermeira, especializada em Vacinas.

O Papilomavírus Humano (HPV) é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns no mundo, afetando milhões de pessoas anualmente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 80% da população sexualmente ativa seja exposta ao vírus em algum momento da vida. O HPV está diretamente relacionado ao desenvolvimento de vários tipos de câncer, sendo responsável por aproximadamente 5% de todos os cânceres humanos.

Entre os tipos de câncer associados ao HPV, destaca-se o câncer de colo do útero, que responde por 70% dos casos globais. Além disso, o HPV está ligado a cânceres em áreas como orofaringe (garganta, língua e amígdalas), ânus, pênis, vulva e vagina. A vacinação contra o HPV, portanto, torna-se uma medida essencial e eficaz para a prevenção dessas complicações, conforme explica a enfermeira e especialista em saúde pública e vacinas, Flávia Fenner.

Como funciona a vacina?

A vacina contra o HPV utiliza partículas semelhantes ao vírus, mas sem o material genético que causaria a infecção. Isso permite que, ao ser administrada, a vacina estimule o sistema imunológico a produzir anticorpos específicos contra o HPV, criando uma barreira protetora. Assim, se a pessoa vacinada entrar em contato com o vírus, seu sistema imunológico já estará preparado para neutralizá-lo, evitando infecções persistentes que poderiam evoluir para cânceres.

 

Vacinação contra o HPV: essencial para prevenir cânceres e promover a saúde pública

 

Existem três tipos principais de vacinas contra o HPV. A vacina nonavalente, por exemplo, protege contra nove tipos do vírus, incluindo os tipos 16 e 18, principais causadores de cânceres genitais e verrugas. Já a Cervarix é voltada para os tipos 16 e 18, associados principalmente a cânceres. A escolha da vacina depende das recomendações médicas e das necessidades de cada paciente, mas todas têm como objetivo a proteção contra os tipos mais perigosos do HPV.

Prevenção de cânceres genitais e orofaríngeos

A eficácia da vacina contra o HPV na prevenção de cânceres genitais e orofaríngeos é amplamente documentada. O tipo 16 do HPV, fortemente associado a esses cânceres, é coberto pelas vacinas atualmente disponíveis. Segundo dados da OMS, a vacinação contra o HPV pode prevenir até 90% dos casos de câncer cervical.

Em países como a Austrália, onde a vacinação foi implementada em larga escala, houve uma redução significativa de lesões pré-cancerosas do colo do útero e uma queda expressiva nas taxas de infecção pelo HPV. Especialistas preveem até a erradicação do câncer cervical como um problema de saúde pública nas próximas décadas.

A enfermeira Flávia Fenner destaca que o câncer orofaríngeo também tem se tornado uma preocupação crescente, especialmente entre homens. Ela enfatiza que a vacinação pode ajudar a mitigar esse aumento. “Ao se vacinar, a pessoa reduz significativamente o risco de desenvolver tanto cânceres genitais quanto orofaríngeos, que têm uma relação direta com o HPV”, ressalta.

Eficácia comprovada e estudos globais

Estudos internacionais comprovam que a vacina contra o HPV tem uma eficácia superior a 90% na prevenção de infecções persistentes pelos tipos mais perigosos do vírus. Uma pesquisa realizada na Suécia, publicada em 2020 no New England Journal of Medicine, demonstrou uma redução de 88% nos casos de câncer de colo do útero em mulheres vacinadas antes dos 17 anos.

Da mesma forma, em países como Reino Unido e Dinamarca, a vacinação resultou em uma queda de 80% nas lesões pré-cancerosas em jovens vacinadas. Nos Estados Unidos, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) afirma que a implementação de programas de vacinação contra o HPV tem o potencial de prevenir mais de 30 mil casos de câncer relacionados ao vírus a cada ano. Esse impacto positivo é reforçado por uma redução de até 50% nos casos de verrugas genitais em adolescentes nos primeiros anos após a introdução da vacina.

Imunidade coletiva e impacto global

Quando uma grande parcela da população é vacinada, ocorre a chamada imunidade coletiva, que ajuda a reduzir a circulação do vírus e proteger indivíduos não vacinados. Em países com alta cobertura vacinal, como a Austrália, onde mais de 80% das meninas e meninos são vacinados, a incidência de infecções e doenças relacionadas ao HPV caiu drasticamente.

 

A importância da vacinação contra o HPV na prevenção de doenças e cânceres relacionados

 

Especialistas projetam que, até 2035, o câncer cervical poderá ser eliminado como um problema de saúde pública na Austrália. No Brasil, o Ministério da Saúde oferece a vacina gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de pessoas com condições especiais, como imunossuprimidos e portadores de HIV.

Apesar disso, a cobertura vacinal no Brasil ainda enfrenta desafios. Em 2023, a taxa de vacinação estava abaixo dos 50%, enquanto a meta é atingir 80% de cobertura para garantir imunidade coletiva.

Segurança e efeitos colaterais

A segurança da vacina contra o HPV é amplamente monitorada por órgãos regulatórios internacionais, como a FDA e a EMA. Estudos confirmam que seus efeitos adversos são geralmente leves e temporários, sendo as reações mais comuns dor no local da aplicação, febre leve e dor de cabeça. Reações graves, como alergias severas, são extremamente raras, ocorrendo em menos de 0,001% dos casos.

Flávia Fenner reforça que os benefícios da vacina superam em muito os riscos: “A vacina contra o HPV tem um excelente perfil de segurança, com monitoramento contínuo. A recomendação é clara: vacinar-se é uma forma eficaz de prevenir doenças graves e salvar vidas”.