O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) conseguiu uma façanha rara na política brasileira: unir em torno de sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados o apoio do PT de Lula da Silva e do PL de Jair Bolsonaro. Esses dois partidos, que representam as principais forças eleitorais do país, decidiram apoiar Motta, apesar de suas diferenças ideológicas.
Além do PT e do PL, Motta também recebeu o apoio do MDB, do PP e do Podemos. Outros partidos de esquerda devem seguir o exemplo do PT. Elmar Nascimento, que era o candidato preferido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desistiu de sua candidatura, fortalecendo ainda mais a posição de Motta.
A união entre lulopetistas e bolsonaristas em torno de Motta é surpreendente, considerando que esses grupos geralmente trabalham em oposição um ao outro. No entanto, essa aliança tem mais a ver com a lógica das disputas pela Mesa Diretora da Câmara e a preservação de poder, benesses e recursos, do que com a construção de agendas consensuais para o Brasil.
O consenso entre PT e PL demonstra que o verdadeiro centro de poder da República está no Congresso, especialmente na Câmara dos Deputados. Com poderes orçamentários fortalecidos e bancadas indóceis, a governabilidade tem se tornado mais desafiadora para o Executivo. Tanto Bolsonaro quanto Lula enfrentaram dificuldades em lidar com a natureza instável e fragmentada das relações com o Congresso.
Hugo Motta, de 35 anos, está na Câmara desde os 21 e vem de uma família de políticos. Ele fez parte da base dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro e, apesar de ter votado a favor do impeachment de Dilma, do teto de gastos e da reforma trabalhista, é próximo do governo Lula e um dos principais interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.